quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Genocídio na Palestina e desesperança com Obama

A cada novo tom mais belicista e mais genocida das declarações das autoridades israelenses, mais o atual sistema de nações se mostra inválido e indecente. O assassínio tramado contra o povo palestino, a pretexto da exterminação do grupo Hamas, revela que os dirigentes do Estado de Israel passaram à fase de experimentação a terceiros das técnicas empregadas pelos nazistas na segunda guerra mundial: confinamento, isolamento, humilhação, campos de concentração e mortes de forma cruel e covarde.

O mapa do mundo contemporâneo é o mapa das guerras e de conflitos bélicos em todos os continentes. Na Ásia [Tibete, Índia e Paquistão, Afeganistão], na África [Congo, Zimbábue, Nigéria], na Europa [Bálcãs, Chechênia, Georgia], Oriente Médio [Iraque, Israel, Palestina, Irã] e na América Latina [Colômbia, México], espocam conflitos graves que não são solucionados porque as maiores potências e suas mega-empresas estão diretamente envolvidas e têm interesses econômicos e geopolíticos diretos. É da natureza mesma do capitalismo experimentar as transformações de longo prazo em contextos de crises, guerras e desordens.

No caso do Oriente Médio, não haverá solução enquanto os Estados Unidos e o conjunto das principais nações do globo não intervierem diretamente no conflito. Intervenção para retomar as resoluções da ONU consensualmente aprovadas e nunca cumpridas por Israel desde 1967 e para estabelecer as condições fundamentais de coexistência dos dois Estados, duas Nações e dois Povos com soberania e sem agressão.

Esta realidade, porém, parece estar muito distante. O silêncio de Barak Obama a respeito das agressões dos últimos dias, supera o protocolo e a formalidade de quem não é ainda o presidente em exercício dos EUA e assume a forma de uma cumplicidade desapontadora das expectativas mundiais que se ergueram com sua eleição.

Um dos melhores jornalistas do mundo e melhor e mais experimentado de todos os correspondentes de guerra, Robert Fisk, do jornal britânico The Independent, tem argumentos sólidos para crer-se que as decepções do dia seguinte com Obama poderão ser equivalentes às enormes ilusões alimentadas na véspera.

Em artigo publicado no Página12 da argentina, Robert Fisk escreve o artigo “
Con Obama no esperen progresos: “Si documentar es, como sospecho, dejar constancia de las irresponsabilidades de la humanidad, los últimos días de 2008 constatan mi visión. Empecemos con el hombre que no va a cambiar Medio Oriente, Barack Obama, quien como era predecible fue la “persona del año” de la revista Time. Ahí, oculta en una larga y tediosa entrevista, está la única frase que Obama le dedica al conflicto árabe-israelí: “Veremos si podemos construir sobre el progreso que ya se logró, aunque sea a nivel de conversaciones, en torno del asunto israelo-palestino; ésa será una prioridad”.
¿De qué habla este hombre? ¿Construir sobre el progreso? ¿Cuál progreso? Con otra guerra civil a punto de estallar entre Hamas y la Autoridad Palestina (AP), con Benjamin Netanyahu como contendiente para ser el próximo primer ministro, con el monstruoso muro israelí en Cisjordania y los israelíes construyendo cada vez más nuevas colonias en tierras árabes, mientras los palestinos siguen disparando cohetes sobre Sderot, ¿Obama cree que hay "progreso" sobre el cual construir?


Não haverá paz no mundo enquanto não houver uma solução digna envolvendo o povo palestino e pacificando o Oriente Médio. Infelizmente 2009 começou mais cedo, prenunciando os tempos tenebrosos que seguirão e vencerão a sensatez.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A “saga cármica” de Yeda

A derrota do governo Yeda Crusius na tentativa de prorrogação dos contratos de pedágios por mais quinze anos traz conseqüências consideráveis para os dois anos que lhe restam.

Este mais recente fracasso repete o que parece ser a “saga cármica” do governo Yeda: encerrar cada ano como se chegasse ao fim do mundo. Foi assim em dezembro de 2006 quando, antecipando-se ao início do próprio governo, tentou manter o tarifaço, mas amargou uma derrota e sofreu a defecção de três secretários indicados. Tudo se repetiu em dezembro de 2007 quando tentou, outra vez sem sucesso, aumentar os impostos. E neste final de 2008, com a “ordem de retirada” daquele que seria “a jóia da coroa” da segunda metade do mandato, colhe novamente uma derrota de grande significação.

Como de hábito, o governo Yeda despeja a culpa em terceiros pelos seus erros e derrotas sofridas. Desta vez, a choradeira foi contra o governo federal, acusado de supostamente ter “interferido na autonomia federativa”, “politizado o tema” e blá-blá-blá.

A verdade, contudo, é que a responsabilidade exclusiva da derrota foi do Palácio Piratini, que esqueceu que não poderia fazer mesuras e cortesias para empresas de pedágios com estradas alheias. Ofereceu uma mercadoria que não poderia entregar: 900 quilômetros de estradas federais cuja delegação ao Estado do Rio Grande do Sul vence em 2021 – antes, portanto, do prazo desejado pelo governo para a prorrogação dos pedágios, que seria até 2028.

Melhor faria o governo se aprendesse com os sucessivos erros que gera. Mas faz ao contrário; prefere deliberadamente a linha de conflito e de acusações, para assim encontrar supostos culpados aos quais tenta distribuir as responsabilidades do próprio fracasso. Além de insensata, esta atitude não resolve os dilemas do governo, que sai politicamente debilitado com a perda do projeto dos pedágios.

Independente dos problemas, das limitações e das absolutas inconveniências do projeto de prorrogação dos pedágios, o fato é que o governo vislumbrava a possibilidade de realização de um portfólio mínimo – porém propagandisticamente vistoso – de obras rodoviárias que teriam muita valia na recomposição de sua imagem profundamente desgastada.

Para um governo que cada vez mais carece de resultados reais em lugar de conflitos, truculência e chavões vazios, não deixa de ser uma derrota importante. Se é verdade que as poucas obras rodoviárias previstas teriam a propriedade de compactar a base de sustentação do governo em tempos pré-eleitorais, o que dizer da travessia política num ambiente de escassez de investimentos e obras e de abundância de problemas e confusões?

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Chico Fraga, Coronel Mendes e um certo tipo de mídia

A revelação da conversa que o controvertido Coronel Mendes, do tucano governo gaúcho de Yeda Crusius, manteve com o não menos controvertido Chico Fraga, integrante do tucano governo canoense de Ronchetti, é estarrecedora e esclarecedora.

Estarrece pelo fato de que o Coronel, um aparente linha-dura-moralista-da-ordem-e-dos-bons-modos, desfrutando de considerável intimidade, pediu favor a um agente público que, ao que se vê, é um verdadeiro “globtrotter” em escândalos e irregularidades com verbas públicas e que, presumivelmente, tem força e poder junto ao governo Yeda. E também influência para indicar uma espécie de Mariza Abreu da segurança pública – alguém com arrogância, violência, soberba, truculência, inaptidão ao diálogo e autonomia para afrontar permanentemente a sociedade.

E esclarece a simbiose que existe entre um suposto e alegado tipo de “jornalismo colunista” e o modus operandi de determinados segmentos conservadores. Este pseudo jornalismo em verdade se revela cada vez mais uma prática criminosa de atacar pessoas, destruir imagens públicas e infundir preconceitos contra pessoas de esquerda e organizações civis com as quais discordam politicamente.
Ao mesmo tempo que impressiona que tal comportamento “jornalístico” subsista impunemente, apavora a idéia de que seus autores comportem-se como verdadeiros psicopatas homicidas, movidos tão somente por ódio bruto contra inimigos imaginários.

A pergunta é: quem os sustenta?

O “subprime” chegou antes na Chácara das Pedras

A crise do sistema hipotecário dos Estados Unidos, que arrastou o mundo na maior crise do capitalismo desde 1929, parece ter apresentado um primeiro espasmo em Porto Alegre, precisamente no Bairro Chácara das Pedras, no agora remoto ano de 2006.

Terá sido a governadora Yeda Crusius a primeira e rara brasileira a se beneficiar da corrosão do “subprime” nos Estados Unidos? [“subprime” = título imobiliário de alto risco que faz parte da orgia financeira especulativa].

Uma explicação plausível da ciência – a estas alturas do campeonato não é recomendável “comprar-se” as explicações do mercado, sobretudo o imobiliário – pode indicar que sim, a governadora fez um negócio da China: comprou por 700 – 800 mil reais, no final de 2006, a casa que em março de 2006 era anunciada por R$ 1,450 mil. Além da pechincha do preço, o Senhor Laranja, vendedor do imóvel , que paradoxalmente alegava razões de urgência para a venda a preços tão módicos, parcelou o pagamento.

Com a chegada definitiva dos efeitos da crise no Brasil, muitos amigos e pessoas conhecidas que residem na Chácara das Pedras e na Vila Jardim receiam que, a partir dos parâmetros da transação imobiliária feita pela governadora, seus imóveis sejam desvalorizados a ponto de terem de indenizar potenciais compradores.

domingo, 7 de dezembro de 2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

“Campeão total”, campeão de todas as conquistas

No Brasil, o Inter é, desde hoje, o maior campeão de títulos internacionais. Conquistou para todo o povo brasileiro, hoje, a Copa Sulamericana, título inédito que os maiores e melhores times do país almejavam.
Para superar esta sua própria condição de “campeão total”, só se o Inter participasse de certames em outros continentes. Poderia, por exemplo, criar uma sucursal na Europa e assim aditar novas conquistas ao portfólio de “campeão total”.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Após o desastre de Yeda, 2010 no horizonte

Jeferson Miola
Fracasso retumbante
O governo de Yeda Crusius é, inapelavelmente, um retumbante fracasso. Um governo que, em verdade, se confunde com uma farsa, auto-inviabilizada desde muito cedo. Símbolo dessa realidade foram as demissões de secretários antes mesmo de tomarem posse, ainda em dezembro de 2006. O governo tucano que é, todavia, adornado com a plumagem pluripartidária do PMDB, PP, DEM, PTB e PPS, inaugurou uma etapa tenebrosa e sem precedentes na política gaúcha.

A alta rotatividade de secretários demitidos é um recorde sem concorrência em toda a história do Rio Grande. A opção pelo conflito e pelo enfrentamento permanentes são a preferência da Governadora e de agentes políticos do governo. E tratam-se não só de conflitos com setores da sociedade e do funcionalismo – a condução fascista da Brigada Militar é a maior prova disso – como também de conflitos internos ao próprio governo, caracterizado na ruptura entre a Governadora e seu Vice-Governador e nas muitas demissões de Secretários por desavenças.

Quanto aos compromissos eleitorais, é um governo que fraudou as principais – senão todas - promessas. O tal “novo jeito de governar” confirmou-se como uma mera empulhação de época de eleição, substituído pelo autoritarismo, falta de diálogo, truculência, violência e suspeitas de corrupção. A mentira de equilibrar as finanças sem aumento de impostos foi desmascarada duas semanas após as eleições com a tentativa frustrada de manter as alíquotas de ICMS elevadas.

O programa de irrigação, alardeado como solução milagrosa para todas as mazelas do Rio Grande, não saiu do papel porque na realidade nunca existiu, apesar da Governadora ter criado uma Pasta específica para a área. Nas áreas sociais, para as quais a candidata prometia o nirvana ao povo gaúcho, promoveu o desfinanciamento com conseqüente desmonte de estruturas e serviços públicos essenciais.

O polêmico projeto de prorrogação dos contratos de pedágio é um caso raro de compromisso de campanha que está sendo mantido – sabe-se lá quais possam ser as razões para tal “fidelidade programática”. Este foi, aliás, um ponto inexplorado no debate eleitoral de 2006, que fora apresentado no programa da então candidata Yeda Crusius eufemisticamente como “Novos Equilíbrios para os Pedágios de Consórcios que diminuam o custo para o usuário de automóveis e ônibus.” [Item 4 do Capítulo Transportes e Sistemas Logísticos, página 15].

A repactuação da dívida pública do Estado seria uma medida meritória em meio ao oceano de desastres, não fosse a enorme variação cambial, que não só gerará novos encargos à dívida, como também prejudicará as finanças públicas no médio prazo. É de se sublinhar, neste caso, a inconsistência gerencial e a imperícia do governo, que não adotou as cautelas recomendáveis principalmente em se tratando de contratos indexados por moeda estrangeira, tendo arrogantemente desprezado alertas neste sentido.

Uma mirada realista para o governo Yeda, portanto, alude a uma situação de desastre político e administrativo; dum fracasso incontestável. Julgamento que vale tanto para as áreas específicas como em relação ao conjunto da “obra”. É uma das experiências mais fracassadas de governo no Rio Grande do Sul devido aos métodos empregados para governar, às opções e às políticas empregadas.

Ordem unida contra o PT
Mesmo sendo o fracasso que é, mesmo envolvido em suspeitas de corrupção, mesmo produzindo crises quase diariamente, instabilidades, desatinos, conflitos e violência, o governo Yeda consegue conservar sustentação parlamentar, política e midiática. Pela razão fundamental de que este é o governo do conservadorismo – do PSDB, PMDB, DEM, PPS, PTB, PP -, da direita econômica gaúcha e da mídia conservadora, e porque seu eventual soçobramento beneficiaria naturalmente o PT e a esquerda.

Em 2006, diante da hipótese de eleição de Olívio Dutra e do retorno da opção democrático-popular na condução do Palácio Piratini, a direita gaúcha – política, empresarial e midiática – preferiu a aventura desastrosa de Yeda. Era um desastre anunciado. A crônica política sabia, os pássaros sabiam, todos sabiam que Yeda não representava mais que bordões e clichês vazios, fantasiosos, destituídos de sentido. Ela transformou a política num fetiche e intencionalmente despolitizou a política para poder criminalizar seu oponente do segundo turno que fez política e a disputa eleitoral com seriedade e decência.

A política no Rio Grande do Sul, nos últimos anos, tem sido assim: constrói-se uma união não a favor do Estado e do desenvolvimento, mas uma união contra o PT; contra a possibilidade do PT voltar a ocupar posições de destaque no poder e equilibrar o jogo político regional. Mesmo que o PT eventualmente porte as melhores idéias e propostas para o desenvolvimento e para o progresso, encontram formas de demonizá-lo e satanizá-lo como um mal a ser evitado. Fazem do combate ideológico do PT uma religião monoteísta.

Em artigo neste espaço analisando o abafamento do impeachment da Governadora, foi dito que o reacionarismo gaúcho “não quer o melhor para o Rio Grande, mas sim conservar os seus melhores interesses e privilégios. Eles não pensam no que poderia melhorar a vida de todos, mas naquilo que não atrapalhe os seus objetivos. Eles não fazem política a favor de alguma coisa, mas contra o PT. Eles sempre optam por planos para derrotar o PT, e nunca por projetos para governar o Estado ou as cidades - mesmo que os planos contra o PT sejam prejudiciais ao povo e ao futuro, e mesmo que os projetos do PT sejam o melhor para a sociedade. Muitos deles fazem política com ódio e preconceito contra o PT, e têm medo daquele PT autêntico e programático que operou importantes transformações em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Foi assim que elegeram Yeda, com a idéia fantasiosa, mítica e vazia do “novo jeito de governar”; a reedição estadual da fraude “nirvanesca” que aplicaram com Fogaça em Porto Alegre para derrotar o PT. O Rio Grande e Porto Alegre ficaram pior com eles, mas como o que lhes interessa é ‘tirar’ o PT e não deixá-lo voltar, então para eles a coisa está boa e deve continuar, mesmo que a população os repugne.” [
Eles têm medo de quê? - Biruta do Sul, 19/06/2008].

A melancolia até o fim
O governo Yeda é, neste final de 2008, o alívio de ter já passado metade do mandato, mas o fardo de ter outra metade que, tudo indica, será de um vazio político até o encontro com seu fim melancólico. Ao que parece, a segunda parte do governo tende a ser a reedição duma Yeda Crusius descrita em 1993 por um conhecido colunista gaúcho quando a então Ministra do Planejamento de Itamar vagava na Esplanada dos Ministérios em Brasília sem poder e cumprindo papel ornamental: “um ente ficto, um ectoplasma tecnocrático, uma utopia dirigencial, uma avacalhação mais completa ...”.

Não seria implausível, contudo, que com a eventual abertura do estoque de escândalos pendentes que ficaram suspensos do debate público durante o período eleitoral – a começar, por exemplo, pela elucidação das condições de compra da casa da Governadora -, se retome uma conjuntura de maiores enfrentamentos e questionamentos da continuidade deste governo.

Antecipação do clima eleitoral de 2010
O fracasso do governo Yeda, por mais retumbante que seja, não significa, em nenhuma hipótese, que o bloco conservador, que é herdeiro e partícipe deste governo fracassado, está antecipadamente derrotado na sucessão de 2010. Os próprios “sócios” do desastre, o PMDB em proeminência, por ora avaliam ser conveniente permanecer no governo a abandoná-lo, apesar da caracterização negativa que dele se faça e dos péssimos índices de aprovação popular que ostenta.

As razões para se manterem juntos transcendem às conveniências parasitárias na máquina estatal, confessadas pelo ex-Chefe da Casa Civil de Yeda nas gravações de conversas mantidas com o Vice-Governador. É que este é exatamente o mesmo bloco social, econômico, partidário e midiático que vem polarizando com a alternativa de esquerda no Rio Grande do Sul pelo menos desde a eleição estadual de 1994, e que estará novamente unido em 2010. Além disso, são importantes os indícios de força desses partidos nas eleições municipais, sendo o PMDB o de maior visibilidade, com vitórias na capital, em Caxias do Sul e em outros centros urbanos de importância regional.

Se o coesionamento e a unidade de todo o conservadorismo em torno do governo Yeda é um fato contingente, a antecipação dos raciocínios eleitorais é outra imposição circunstancial do presente contexto político. O fracasso do governo forçosamente antecipa as equações com vistas às eleições de 2010, com a tendência de que o PMDB e o PT galvanizem o debate sucessório, mesmo que o PSDB tenha recentemente afirmado a candidatura re-eleitoral de Yeda.

O PMDB, alinhando do centro e centro-direita à direita do espectro partidário, reproduzindo o mesmo campo de alianças de quando governou com Britto e depois com Rigotto – nas duas vezes tendo o PSDB na vice-governança. E o PT, buscando alinhar posições do centro e centro-esquerda à esquerda, se esforçando para assegurar a companhia do trabalhismo e dos aliados históricos.

O PT tem boas chances de reconquistar o Piratini nas eleições de 2010, e essa é uma tarefa prioritária para que o partido e a esquerda gaúcha, governando o Rio Grande com políticas inovadoras e populares, possam recuperar capacidade de disputa hegemônica na sociedade gaúcha. Seria bom se o PT conseguisse emplacar, já no início de 2009, um planejamento estratégico com o objetivo de avançar na construção de relações partidárias e com setores da sociedade, das bases programáticas, de alianças e da melhor indicação de candidatura dentre os importantes e experientes quadros que o Partido pode oferecer para a construção de um projeto progressista, democrático e popular no Rio Grande do Sul.

Tomara que a reiterada ausência de balanços políticos de parte do PT – nestes dias, por exemplo, completa o primeiro mês da eleição em Porto Alegre sem que os filiados e simpatizantes da sigla sejam brindados com avaliações sobre o processo –não tem anule a capacidade de aprender-se com os processos equivocados do passado.

A legítima ambição de vencer em 2010 para desenvolver o Rio Grande e para melhorar a vida do povo gaúcho demanda um trabalho de diálogo, compreensão, consensos e muita unidade política interna que demanda, em última instância, tempos, ritos e processos políticos de qualidade distinta da que o PT vem se valendo nos últimos anos.

Se quiser vencer em 2010, a opção que se organizará em torno do PT não poderá resultar de invenções de última hora ou de arranjos determinados por processos internos dilacerantes e esterilizadores de força política. É fundamental que já ao raiar de 2009 iniciem-se os esforços e processos para a construção do que poderá ser a possibilidade concreta da vitória em 2010: um programa, amplas relações na sociedade, alianças coerentes e a mais potente candidatura.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Noam Chomsky em entrevista ao Rebelión

La crisis financiera marca el fin de un modelo cultural cuya doctrina es el fundamentalismo del libre mercado

Entrevista de Noam Chomsky ao Rebelión.

La crisis financiera actual representa también la crisis de un modelo cultural que tiene como principal doctrina al fundamentalismo del libre mercado, aseguró en entrevista Noam Chomsky (Philadelphia, 1928), calificado como el intelectual más influyente del planeta por las revistas Foreign Policy y Prospect Magazine en 2005.
“Donde la liberación financiera ha tenido lugar, a menudo resulta ser desastrosa, un hecho que debe ser suficientemente familiar en América Latina”, dijo el lingüista y profesor emérito del Instituto Tecnológico de Massachusetts.
“Este modelo intelectual ha sufrido un duro golpe. Ha sido modificado radicalmente por la intervención del Estado, el mismo tipo de intervención que ha sido prohibida para los países pobres. El modelo será objeto de nuevas modificaciones de acuerdo a los intereses de los centros de poder económico que en gran medida controlan la política estatal”.
Estados Unidos (EU) ha destinado 700 mil millones de dólares para salvar a los bancos, el ex presidente de la Reserva Federal Alan Greenspan dijo que cometió un error al confiar en el libre mercado, el Premio Nobel de Economía Joseph Stiglitz comparó la caída del sistema financiero con la caída del Muro de Berlín, a diario pierden las bolsas de valores y se dice que lo peor está por llegar.

-¿Cuál es la magnitud de la actual crisis económica?
Nadie sabe qué tan grave será. Y no es una sola crisis: hay varias. Una es la crisis financiera que se encuentra en las primeras páginas. Otra es la recesión en la economía real, es decir, la economía productiva. Una tercera, en EU, es la inminente crisis del ineficiente y costoso sistema privado de atención a la salud, que socavará el presupuesto federal a menos que se aborde en serio. Estos interactúan de manera compleja.
No veo ninguna utilidad en compararla con el Muro de Berlín. Ese fue un paso crucial para la caída de la URSS. No hay indicios de que las instituciones del Estado capitalista estén enfrentando un destino similar, excepto sectores como los bancos de inversión y algunas otras en el sector financiero, y por muy diferentes razones, sectores industriales como el automotriz en EU.

-¿Cuáles son las lecciones de esta crisis?
La más inmediata es que el fundamentalismo de mercado fue un desastre, lo cual no debería sorprender a los latinoamericanos o a otros sometidos a esta disciplina. Más específicamente, la liberalización financiera conduce al desastre. También, que la liberalización es un serio golpe c ontra la democracia. Otra lección subraya la sensible observación del principal filósofo social estadounidense del siglo 20, John Dewey: la política es “la sombra que las grandes empresas proyectan sobre la sociedad”.

-¿Será el ocaso del poder de los Estados Unidos y el inicio de la hegemonía de China o la India?
Es muy poco probable, a pesar de que la crisis puede llevar adelante el proceso de diversificación de la economía mundial. Los EU tienen enormes ventajas, aparte de su abrumador poderío militar. Europa tiene una economía de escala comparable, pero es heterogénea, y ha sido renuente a dar un paso adelante en los asuntos mundiales, prefiere permanecer bajo la sombra de EU. China y la India han estado creciendo, al igual que otros países de Asia que desafían la ortodoxia neoliberal, pero tienen enormes problemas internos. Un indicador está dado por el Índice de Desarrollo Humano de la ONU: China ocupa el lugar 81; India, el 128 (apenas por encima de Laos y Camboya). Y eso es sólo la superficie.

-¿Es la crisis de las finanzas o la crisis de un modelo cultural?
Es la crisis de un “modelo cultural” si por esto nos referimos a un sistema doctrinal: el fundamentalismo del libre mercado. Pero, a pesar de las pretensiones, esa doctrina nunca fue aceptada por los mismos centros de poder occidentales, pese a que fueron felices en predicarlo a los demás. Esto es un patrón histórico que se remonta por siglos, y es un importante factor en la creación del Tercer Mundo en las regiones colonizadas.
Autor de “Hegemonía o supervivencia. La estrategia imperialista de EU”, Chomsky menciona que Ronald Reagan, quien es reconocido como el “sumo sacerdote de los libres mercados”, incrementó el tamaño del gobierno, rescató el Continental Illinois Bank y fundó el consorcio Sematech para salvar a la industria de semiconductores estadounidense, entre otras acciones.
La crisis económica también ha evidenciado el “desmantelamiento” que sufre la democracia a causa del sistema del libre mercado, consideró Chomsky, quien se ubicó en la onceava posición de la lista de junio pasado sobre los intelectuales más influyentes del mundo. En la lista elaborada por Foreign Policy, editada por el Fondo Carnegie para la Paz Internacional, los primeros 10 fueron musulmanes. “En una democracia, las organizaciones populares, sindicatos, partidos políticos y otros, podrían estar formulando soluciones y presionando a los representantes políticos para ponerlas en práctica y no hay ninguna señal de eso”, sostuvo.
Es sorprendente, agregó el icono de la izquierda internacional, que los principales medios de comunicación estadounidenses insistan en invertir recursos públicos para salvar a los bancos, sin ningún tipo de control público, mientras que condenan el rescate de la industria automotriz. Los empleados de la industria del auto ganan 56 mil 650 dólares al año, casi lo que gana en un día Robert Rubin, actual presidente del Comité Ejecutivo de Citigroup, y uno de los responsables del actual desastre económico, en su calidad de ex Secretario del Tesoro de Bill Clinton, apuntó.

-¿Qué puede esperar el mundo y Estados Unidos si Barak Obama gana las elecciones?
Las bases de Obama parecen ser las de un demócrata centralista, tal vez no como Clinton. Un análisis más detallado tendría que considerar caso por caso.

-¿Qué representa el que un afroamericano pueda llegar a ser presidente de EU?
Es bastante significativo, como el hecho de que en las elecciones del partido Demócrata los candidatos fueron una mujer y un negro. Hace 40 años habría sido prácticamente inconcebible. Este es uno de los muchos indicios de la militancia popular de la década de 1960 y sus secuelas.


-¿Cuáles serán las consecuencias de la crisis económica en el ámbito cultural?
Eso es impredecible. Las crisis económicas a menudo se han visto acompañadas por la aparición del gran arte.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

“Mendesmômetro” para medir efeitos do Coronel Mendes

Enquanto conta com o apoio irrestrito e entusiasmado da Governadora Yeda Crusius e o aplauso não menos irrestrito e entusiasta de boa parte da mídia e de comunicadores gaúchos, o Coronel Mendes vai produzindo o morticínio inerente à sua postura militarista.
Infelizmente isso só tende a acabar depois duma tragédia produzindo cadáveres inocentes dos “filhos da classe média ou da classe rica” vitimados pela truculência do Coronel.
Então a comoção terá vindo tarde demais.

Mais em comum

O que têm em comum o Comandante da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Coronel Mendes, e o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes, além do sobrenome?

Inclinações autoritárias e idéias fascistas, pertencentes a tempos passados, medievais.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

La Bombonera viu olé do Inter

Vencer o Boca Juniors não é fácil. E o Inter venceu-o no templo do Beira-Rio por dois a zero, há duas semanas, com dois golaços do Alex.

Vencer o Boca Juniors em plena Bombonera, é mais difícil ainda. Fazia 40 anos que um time brasileiro não conseguia tal feito.
E o Inter venceu nesta noite, por dois a um. E venceu com olé, numa proeza que poucos times de futebol são capazes.

O Inter, último campeão brasileiro da Libertadores e do Mundial da Fifa, deu um show de bola e se cacifou para a semi-final da Copa Sulamericana.
Com olé e um futebol vistoso, raro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Falcões do Serrismo

De Fernando de Barros e Silva, na Seção de Opinião da Folha de São Paulo de 03/11/2008.
Ficou estabelecido por aí, nos ares do tempo, que os petistas abrigam cupinchas, e os tucanos têm assessores; que o PT aparelha, e o PSDB emprega; que um, quando vence nas urnas, põe a democracia em risco; que a vitória do outro exprime a saúde da democracia contra a tara totalitária do primeiro. A lista é vasta.... e tediosa.
A alguns, esses contrastes podem soar simplistas e caricatos. Talvez sejam mesmo. Mas estão na ordem do dia. Tome-se o exemplo ainda fresco das eleições municipais.
Todos sabem, José Serra saiu delas vitorioso. Como grão-tucano, ele tem muitos assessores. Emprega muita gente. Alguns deles -para falar na língua de Delúbio, que os petistas entendem- são auxiliares não contabilizados. Trabalham por amor à causa do governador. Engrossam o Partido do Serra na mídia, de vento em popa rumo a 2010.
Um luminar não contabilizado do serrismo soprou ao governador e ele achou que deveria dizer o seguinte no discurso da vitória, ao lado de Kassab, domingo passado: "Ganharam no Brasil a pluralidade e a diversidade. Perderam o monopólio e aqueles que sonham com o monopólio". E completou a grande idéia com insinuações sobre o mundo sombrio de George Orwell.
A cascata tucana deu cria. Pululou por jornais e blogs até parar na revista. Ora, a tese de que outro resultado eleitoral ameaçaria a democracia entre nós não passa de delírio reacionário. Qual o perigo? Há pobres demais comendo no país? Desejos totalitários? Mas quem falava em 2006, de boca cheia, em "acabar com aquela raça"?
Afora isso, é fato que o PT sofreu um revés nas urnas, à luz do que esperava. Mas parece precipitado dizer que Lula foi derrotado. O que se viu na campanha foi uma legião, da oposição inclusive, procurando tirar lasca da sua popularidade. Não funcionou em São Paulo.Vamos repetir: o serrismo saiu da eleição por cima. Mas em uma semana já ofereceu um mau presságio do que ele poderá se tornar nas garras da direita que o parasita.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Eleições 2008 - segundo turno

Comentários preliminares
Os resultados do segundo turno no país reforçaram a situação de equilíbrio de forças entre o PSDB e o PT, assim como aumentaram bastante o ativo político do PMDB como principal coadjuvante no jogo político nacional. Com o diferencial de que, com a reeleição do prefeito do DEM em São Paulo, o governador José Serra e o tucanato foram duplamente beneficiados: [i] atiram-se na disputa presidencial de 2010 com enorme quinhão eleitoral e [ii] re-cimentam o antigo condomínio fasci-conservador.

No Rio Grande do Sul, dos três municípios onde o PT disputava o segundo turno, a eleição de Jairo Jorge em Canoas pavimenta o caminho da BR-116 e representa a consolidação do avanço partidário nesta importante Região Metropolitana, que em certa medida contra-arresta a derrota sofrida em Porto Alegre pelo PT.

Qual qualidade
Ao interior do bloco de apoio do governo, identifica-se claramente a vitória do lulismo, o que não significa necessariamente uma vitória da esquerda e, menos ainda, a primazia apriorística do PT no tabuleiro político do Presidente Lula. Cabem na “contabilidade lulista”, por exemplo, as eleições como de Eduardo Paes/Rio, do invento petista-tucano Márcio Lacerda/BH, de João Henrique/Salvador e de outros tantos personagens “pouco ortodoxos” da vida partidária nacional.

Mesmo as vitórias do PT têm de ser decifradas. Os quadros de gelatinosidade ideológica, promiscuidade nas alianças e rebaixamento programático verificados em grande parte das campanhas petistas – abrangendo a esquerda partidária e o campo majoritário - impõe maior parcimônia na caracterização das vitórias petistas. Uma pergunta [im]pertinente que se impõe é “qual o PT emergiu das urnas em 2008?”. Uma impressão que fica dessas eleições municipais é de que avançou muito o processo de desconstrução identitária do PT.

A derrota em Porto Alegre
No início da corrida eleitoral, todas as setas indicavam o caminho da vitória petista em Porto Alegre, e a retomada desta cidade que já foi ícone da esquerda mundial por obra das realizações civilizatórias e modernizadoras do próprio PT. Por razões que certamente serão analisadas e expostas ao conjunto dos petistas pela direção do PT e pela coordenação de campanha, o fato é que o PT perdeu, e perdeu de maneira preocupante.

No quadro adiante estão resumidos os desempenhos do PT em Porto Alegre desde quando o partido disputou a própria sucessão em 1992 e as votações obtidas pelos candidatos do PT ao governo do Rio Grande do Sul. Em 1996 não houve dois turnos, porque Raul Pont venceu a eleição no primeiro turno.

Pode-se observar, dessa forma, que no primeiro turno desta eleição, com os 179.587 votos, Maria do Rosário obteve a mais baixa votação nominal de todo o período, assim como a pior votação relativa [22,73%]. Também elegendo sete vereadores no primeiro turno, o PT obteve a menor bancada partidária desde 1998 na Câmara de Vereadores da capital.

Em segundos turnos eleitorais, foi o menor desempenho aferido em todo o período analisado, tanto em termos nominais como relativos e tanto em eleições para a Prefeitura ou nas participações em eleições ao Governo do Estado. Foram quase cinquenta mil votos a menos que o desempenho no segundo turno da eleição municipal anterior. A diferença em favor do adversário, ao redor de 18%, igualmente chama muito a atenção.

Sociedade acanalhada
A eleição de 2006 ao governo estadual, quando Olívio fez a maioria dos votos sobre todos os adversários em Porto Alegre nos dois turnos [ver tabela], indicava que a purgação do PT em Porto Alegre teria chegado ao fim. É até possível que, em certa medida, isso seja verdadeiro. Da mesma maneira que pode ser verdadeiro que o odioso sentimento anti-petista tenha aí começado a esmaecer.

O resultado da votação a favor de Fogaça nas regiões abastadas da cidade [2ª zonal], porém, indicam que o “fenômeno” oculto, invisível e profundamente corrosivo ainda existe e é subliminar e eficientemente explorado. Como bem me caracterizou Cláudia Cardoso [do blógue Dialógico] hoje ao telefone, “quê ‘sociedade acanalhada’ esta classe rica da cidade”.

Identificar este fenômeno é como decifrar um enigma. A eficiência da orquestração autoritária e fascista midiática e subjetiva feita ao longo dos últimos anos contra o PT produz representações simbólicas deturpadas e um imaginário delirante e de intolerância contra o PT. Este fenômeno é real, sim, e tem significação relevante nos processos de massa, mas não pode substituir a realização de um balanço rigoroso sobre nossos dilemas políticos e eleitorais.

O dever do balanço
O PT vem colecionando ausências e silêncios quanto aos processos eleitorais e políticos de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul. Em verdade, completa-se uma década sem o exercício crítico e auto-crítico desarmado a respeito dos processos vivenciados. Desde 1998, passando pelas sucessivas prévias traumáticas que resultavam em escolhas e opções ditadas por maiorias eventuais, o PT não elabora de conjunto um balanço.

Já é hora de se retomar a boa tradição de uma boa esquerda e abrir-se o processo de avaliação sobre o desempenho do PT em Porto Alegre. Com a palavra e a responsabilidade primaz, a direção do PT de Porto Alegre e a coordenação de campanha da Maria do Rosário. Para o bom e construtivo debate.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

O pior da crise “não passou, está por vir”, segundo Chesnais

François Chesnais, economista marxista francês, um dos principais estudiosos dos mecanismos do rentismo e da livre circulação dos capitais chama a atenção, na análise da presente crise financeira atual, dos riscos de transbordamento da presente crise inclusive para uma “aventura militar de conseqüências imprevisíveis”.

Em exposição realizada em Buenos Aires em setembro último por ocasião de seminário promovido pela Revista Herramienta, Chesnais comentou sobre as razões para conclusões tão sombrias a respeito da crise. Diz ele: “Por isso, outro elemento a ter em conta é que esta crise tem como outra de suas dimensões a de marcar o fim da etapa em que os Estados Unidos podiam actuar como potência mundial sem comparação... Na minha opinião, saímos do momento que analisava Mészáros no seu livro de 2001, e os Estados Unidos vão ser submetidos a uma prova: num prazo muito curto, todas as suas relações mundiais modificaram- se e terão, no melhor dos casos, de renegociar e reordenar todas as suas relações com base no facto de que têm de partilhar o poder. E isto, evidentemente, é algo que nunca aconteceu de forma pacífica na história do capital... Então, primeiro elemento: um dos métodos escolhidos pelo capital para superar os seus limites transformou- se em fonte de novas tensões, conflitos e contradições, indicando que uma nova etapa histórica vai abrir caminho através desta crise”.
A íntegra da feita por François Chesnais
pode ser acessada aqui.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Noam Chomsky sobre a crise do sistema bancário

Vale ler a entrevista do lingüista e crítico estadudinense Noam Chomsky na Folha de São Paulo de hoje. A respeito do monumental aporte de verbas públicas para a orgia bancária internacional – que já ronda a cifra de 3 trilhões de dólares nos EUA e Europa juntos -, Chomsky diz que “A estatização completa é muito improvável pelas razões que eu mencionei. Uma ação nessa direção traria junto uma ameaça de democracia, ou seja, uma ameaça de o público se tornar envolvido nas tomadas de decisões sobre o sistema socioeconômico. O principal filósofo americano do século 20, John Dewey, observou que enquanto o público não ganhar controle efetivo das principais instituições da sociedade -financeiras, industriais, mídia etc.- a política permanecerá como “uma sombra dos negócios sobre a sociedade”. Naturalmente, esse é o tipo de negócio que o mundo prefere. E a sua dominância sobre os sistemas doutrinários e políticos é tão enorme que a tirania privada é chamada de “democracia”. Já a ameaça de haver democracia real é chamada de “ameaça da tirania”.
Ler a entrevista completa, clicar.

sábado, 11 de outubro de 2008

“Tudo que é sólido desmancha no ar”

Jeferson Miola
A eleição de Porto Alegre não acontece sobre uma página em branco. Porque nas duas últimas décadas, o PT e os partidos aliados da Frente Popular governaram a cidade durante 16 anos consecutivos, até 2004. E o outro candidato, que também disputa a eleição, é o atual prefeito que sucedeu o PT em 2005 e vem governando a cidade há três anos e meio.
Mesmo que o PT optasse por ocultar ou relevar a monumental evidência de que é a tradição política que mais contribuiu para definir o que a cidade é hoje, isso seria impossível. Todos os moradores de Porto Alegre com condição de voto experienciaram, em distintos graus, as administrações municipais do PT e da Frente Popular.
Os eleitores de 16 anos, por exemplo, conheceram, tiveram contacto, foram tocados ou beneficiados pelas políticas públicas produzidas por, no mínimo, 12 anos de Administração Popular. E todos os eleitores com idades a partir dos 20 anos, experimentaram todos os 16 anos de governos da Frente Popular de 1989 a 2004.
Nos governos do PT foram realizadas as principais obras infra-estruturais e viárias, de recuperação do Guaíba, de inovação do transporte público, de universalização de direitos sociais, de reinvenção cultural e de construção das maiores conquistas civilizatórias e cosmopolitas da cidade, como o Orçamento Participativo, o Porto Alegre em Cena e o Fórum Social Mundial, para relembrar apenas algumas delas.
Em diferentes níveis, planos, tempos e intensidades, o povo de Porto Alegre conhece os governos do PT e, se provocado, puxa da memória uma opinião ou expressa uma sensação a respeito desses governos. O PT faz parte da vida pública, política, cultural e administrativa de Porto Alegre; é parte constituinte da mais rica história da cidade. O PT pertence ao imaginário do povo de Porto Alegre, porque ele, mais que qualquer outro partido político, esteve diretamente envolvido com as mais importantes produções simbólicas e concretas de dezesseis dos últimos vinte anos da cidade.
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Os três primeiros mandatos da Administração Popular sempre obtiveram índices elevados de aprovação na sociedade, devido ao êxito das políticas públicas e de desenvolvimento aplicadas. Mesmo a última gestão à frente da Prefeitura [2001/2004], quando foram enfrentadas sérias restrições orçamentárias e dificuldades gerenciais, e que a população cobrou o preço pelas disputas políticas equivocadas do PT, ainda assim metade da sociedade aprovava a Administração Popular.
Não é presunçosa a constatação, portanto, de que até o mais prejudicado dos quatro governos do PT em Porto Alegre foi anos-luz melhor que o governo do condomínio conservador de José Fogaça. Com uma administração pálida, esquálida, sem realizações e sem vigor, o governo atual do município atingiu maiores índices de aprovação somente no período da propaganda eleitoral. Isso porque, durante o debate do primeiro turno, o candidato oficial navegou em águas calmas e não foi sequer contestado em relação às falácias e baboseiras ditas nos programas de rádio e televisão.
Criou-se assim uma situação sui generis, em que o candidato Fogaça obteve uma votação muito superior [43,84%] aos índices de aprovação do seu governo, que orbitavam na casa de 31% até meados do ano. O prefeito conseguiu, em três meses de campanha eleitoral, constituir uma imagem administrativa e política positiva que não havia conseguido estabelecer em três anos e meio de governo ridículo.
Com os votos e percentuais colhidos no primeiro turno pelo atual prefeito, e com a diferença aferida em relação a Maria do Rosário, seria plausível concluir-se que, para perder a eleição, o atual prefeito precisaria cometer erros graves, que não cometeu no primeiro turno. Mas também não seria absurdo supor-se que o acerto no padrão de campanha no segundo turno, de parte da candidatura Maria do Rosário, poderia alterar esta tendência então mais provável. Para o PT, na realidade, não resta outra alternativa senão mudar drasticamente a estratégia da campanha, para ambicionar vencer as eleições.
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Tenho, de maneira empírica, a convicção de que ainda seria possível – neste caso, dramaticamente possível – virar-se o jogo eleitoral com um giro radical do padrão da campanha; mesmo considerando-se a enorme dificuldade que representa virar-se os votos de quem votou no Fogaça no primeiro turno.
Um pressuposto para isso é que o voto em Fogaça nas camadas baixas e médias-baixas foi um voto sem consistência, volúvel, não-cativo, não-partidário, não-doutrinário. Um voto de tipo inercial no/do situacionismo; irrefletido, não-confrontado com a realidade. Nas alegações dos eleitores do Fogaça destes extratos sociais para justificar o voto nele, os argumentos são superficiais e, como não estão intoxicados por sentimento de ódio ao PT, naturalmente aceitam como verdadeiros os contra-argumentos que lembram que os governos do PT melhoraram a própria vida mais do que o governo Fogaça.
No exercício do voto, muitas vezes o povo não elabora sua opção cognitivamente, mas pelas influências simbólicas imediatas que recebe e registra. O voto, principalmente nas camadas mais populares, não é a resultante coerente de análises políticas sofisticadas e complexas. A presença potente de símbolos, imagens e códigos – como fez o Fogaça no primeiro turno – e a ausência de política, de contra-símbolos, contra-imagens e novos códigos – como fez a campanha do PT – favorecem quem está no governo.
Os eleitores do Fogaça, para construir uma nova razão, uma razão política consciente, precisam ser provocados a cotejar os “tempos do PT” com o governo do Fogaça. Devem ser lembrados de que nos governos do PT, “não faltavam antibióticos nas farmácias do SUS, nos plantões e nos postos de saúde”, como faltam agora. Antes do PT, se morava em becos “sem luz, sem água, sem calçamento e sem esgoto”. Antes do PT, as famílias não podiam “trabalhar porque não existiam creches para deixar os filhos”. Depois que o PT assumiu, “os passageiros passaram a ser respeitados, foram criadas novas linhas e se passou a andar em ônibus novos e confortáveis”. Foi nos governos do PT que “o Fórum Social Mundial foi criado e realizado, e depois que o PT saiu do governo o Fórum Social nunca mais voltou para Porto Alegre”.
É necessário que a campanha da Maria do Rosário promova de maneira pedagógica a confrontação das experiências concretas de governo que se desenrolaram aqui em Porto Alegre, não em Belo Horizonte ou em qualquer outro lugar do país. O patrimônio de cumplicidade e intimidade construído em dezesseis anos tem de ser evocado para a obtenção de novo voto de confiança no partido que conhece a cidade, fez bem para a cidade e que pode recuperar o papel avançado de Porto Alegre no futuro e no cenário nacional e mundial.
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Na disputa da eleição, confrontam-se projetos, programas, realizações, biografias e as alianças sociais e partidárias de cada candidatura. Com Maria do Rosário, está o campo democrático e popular autor, junto com o PT, da grande obra de construção de Porto Alegre até 2004. Com Maria do Rosário está o Presidente Lula e o potencial que a relação amistosa e companheira representa para catapultar Porto Alegre no plano econômico e social a partir das políticas virtuosas em desenvolvimento no país. Com Maria do Rosário estão a maioria dos prefeitos eleitos na Região Metropolitana de Porto Alegre, com os quais ela poderá, a partir finalmente de um ambiente regional propício e em diálogo com o Governo Lula, empreender políticas metropolitanas - na saúde, nos transportes, na educação, de emprego - que beneficiarão enormemente a população de Porto Alegre.
Ao lado de Fogaça está o pior do reacionarismo político gaúcho. Com ele estão os partidos conservadores que, nos últimos seis anos, têm destruído os avanços e conquistas cidadãs tanto em Porto Alegre como no Rio Grande do Sul. A base partidária de sustentação de Fogaça é a mesma da governadora Yeda. E eles se juntam não para fazer algo a favor de Porto Alegre e do Rio Grande; porque eles não têm planos de futuro para o Estado e sua capital. Eles sempre e somente se juntam para derrotar o PT; o plano fundamental que têm é de derrotar o PT, não é um plano de governar. Com o Fogaça está, por exemplo, o PPS do velho e manjado ex-governador Britto e sua turma, que faz oposição feroz e odiosa ao Presidente Lula. Não por acaso o principal secretário de Fogaça e Yeda, o César Busatto, “ricuperamente” sumiu no período eleitoral - logo ele que confessou em detalhes a maneira escabrosa como agem os partidos que estão com o prefeito e a governadora.
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A crítica política contundente e leal não é pecado na política, menos ainda numa eleição. Para o PT de Porto Alegre, que alcançou a condição de disputante do segundo turno eleitoral, a simples atitude propositiva não assegura a eficácia necessária para vencer a eleição. É fundamental a militância nas ruas, nas vilas, visitando casa por casa e levando a memória das realizações do PT e os projetos para o futuro. E é super essencial um combate político, simbólico e programático duro para desconstituir o atual prefeito, que faz um dos governos mais medíocres da história de Porto Alegre.
Vencer é derrotar o adversário, para isso desmistificando-o perante o povo. Fogaça soçobra a qualquer debate sério e metódico. Ele se desmancha quando confrontado com nossa experiência e a realidade. Parafraseando as palavras de Marx no Manifesto Comunista, “Tudo que é sólido desmancha no ar, tudo que é sagrado é profano, e os homens finalmente são levados a enfrentar (...) as verdadeiras condições de suas vidas e suas relações com seus companheiros humanos”.
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Dedicado ao querido Pilla Vares, um artífice e co-inventor desta generosa obra que foi a Administração Popular de Porto Alegre.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Camarada Pilla, o mundo fica triste sem ti

Hoje o futuro, a esperança, a generosidade e os ideais de um mundo e de um homem novo perdem muito.

Hoje o Pilla, o Luiz Paulo Pilla Vares, nos deixa porque encontrou a morte. Vai com ele aquela rara consciência revolucionária, de cepa proletária e socialista. Vai com ele o entusiasmo daquele guri sempre faceiro porque crente no porvir histórico de dias ensolarados para todo o povo e para toda a humanidade do mundo inteiro!

Na sua alma grandiosa, a camaradagem, a generosidade, o companheirismo, a paixão e o amor firmaram residência. Na sua consciência arguta e histórica, os ideais libertários, igualitários e humanistas moldaram a noção de esperança no futuro.

Ele foi um dos bravos e mais valiosos do que de melhor o PT produziu e sintetizou da tradição teórica socialista brasileira dos últimos cem anos. E agora o Pilla continua sendo uma estrela; daquelas estrelas mais resplandecentes. Uma estrela que irradia os corações de quem confia que a política só faz sentido, para a esquerda, se for algo para mudar o mundo – de verdade.

Tchau, meu querido camarada Pilla! Até logo, Pilla, nos veremos num futuro melhor!

Neste dia que escolhestes para encontrar a morte - o mesmo dia que tombaram o Che, a 41 anos – não é uma metáfora, mas a representação insofismável do belo exemplo militante, intelectual, socialista e humano que fostes. Por isso te digo, meu camarada Pilla, Hasta La vitória, siempre!! Por isso grito: Pilla Vares – presente!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Che: símbolo dum mundo novo; exemplo humanista e socialista

Em 09 de outubro de 1967, 41 anos atrás, Ernesto “Che” Guevara foi covardemente assassinado no povoado de Higuera, no interior da Bolívia.

Derrubaram Che na ilusão de que, com sua morte, a Revolução sucumbiria.

Engano: passadas estas primeiras quatro décadas, seu exemplo como revolucionário, humanista e socialista é cada vez mais e mais a certeza de que o mundo só será verdadeiramente humano com a derrota do capitalismo e com a destruição de todas as formas de opressão, discriminação e exclusão.

Viva Che!!
Hasta la vitória, siempre!!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dropes

Além do desastre do PSDB e da Governadora Yeda Crusius nas eleições, José Otávio Germano e João Luiz Vargas, dois dos implicados no escândalo do Detran e que tinham interesses diretos nas eleições, também se deram mal nos seus respectivos reinados. A esposa de João Luiz Vargas [JLV, como era registrado nos documentos da turma do Lair Ferst], Júlia Vargas, perdeu a eleição em São Sepé, e Pipa Germano, primo de José Otávio, ficou em terceiro lugar em Cachoeira do Sul.

No município de Teutônia, em que se apresentou um candidato único a prefeito, os resultados foram, no mínimo, desastrosos para o prefeito eleito. O novo prefeito de Teutônia, embora eleito com 49,73% dos votos, foi rejeitado pela maioria do povo teutonense, que votou nulo [47,90%] e em branco [2,36%], totalizarando 50,26% de votos contrários. A média de votos nulos, nas eleições municipais deste ano no RS, foi de 4,4%, mais de 11 vezes menos que os nulos observados em Teutônia!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A vitória do PT no Rio Grande do Sul - 4

A vitória eleitoral do PT gaúcho tem seus vitoriosos internos. De modo geral, o campo que compreende a “Mensagem ao Partido” é o principal beneficiário deste crescimento. Internamente à “Mensagem”, a DS é, individualmente, a principal tendência vitoriosa.

Os problemas internos do PT de Gravataí, evidenciados na ruptura entre o ex e o atual prefeito da cidade, também poderão ser benéficos para o PT. Não é demais lembrar que Gravataí, em épocas não muito distantes, pesou na balança das decisões partidárias com seus métodos que, em tempos pretéritos, seriam considerados inaceitavelmente “heterodoxos” do Rio Mampituba para baixo.

A vitória do PT no Rio Grande do Sul - 3

Os resultados eleitorais positivos do PT no Rio Grande do Sul demonstram que havia um ambiente e uma tendência potencial de vitórias para o partido em todo o estado. Por isso, o desempenho preocupante do PT em Porto Alegre exponencia o peso dos erros – ou, se se preferir - dos desacertos cometidos na condução política e eleitoral. Alguns aspectos para se refletir:

* Maria do Rosário fez 179.587 votos, correspondentes a 22,73% do total de votos válidos; percentual que é inferior a todas as participações eleitorais do PT em Porto Alegre, com exceção de 1985 [primeira eleição em capitais depois do fim da ditadura militar, quando se apresentou com Raul Pont] e do primeiro turno a governador em 1990 com Tarso Genro.
* Foram eleitos 7 vereadores do PT e outro na coligação da Frente Popular; menor bancada partidária desde 1988. Ainda assim, o PT elegeu a maior bancada individual da Câmara de Vereadores.

* O PT já não teve a maior votação de legenda nesta eleição, perdendo posição para o PMDB.

São circunstâncias extraídas do primeiro turno eleitoral que, vistas em conjunto com o alto percentual obtido pelo atual prefeito, que foi de 43,84%, informam que é essencial o trabalho árduo acompanhado de drástica mudança na condução da campanha de Maria do Rosário para a reconquista de Porto Alegre.

A desvantagem de Marta Suplicy em São Paulo obrigará o PT a adotar uma campanha mais agressiva na disputa contra os adversários do governo Lula. Quem sabe esta necessidade não seja um aspecto a influenciar a mudança de fisionomia da campanha do PT em Porto Alegre no segundo turno.

A vitória do PT no Rio Grande do Sul - 2

Enquanto isso, na cidade “gaulesa” de Porto Alegre, a principal vitória do PT foi a confirmação da ida da Maria do Rosário ao segundo turno para enfrentar o atual prefeito Fogaça. O desempenho do PT na capital, porém, exigirá um brutal trabalho de superação para vencer Fogaça e o condomínio conservador que se aglutinará em torno dele no segundo turno.

O PSOL, com os 9,22% de Luciana Genro e a eleição de duas vagas na Câmara de Vereadores, é um dos partidos que melhor se beneficiou na eleição em Porto Alegre. No contra-fluxo, o DEM e Ônix Lorenzoni diminuíram mais da metade dos votos que o candidato fez em 2004, despencando de mais de 80 mil votos na eleição para a prefeitura em 2004 para os 38 mil obtidos nesta eleição.

E para o PCdoB, a dureza foi grande: não só não se classificou para o segundo turno, como não elegeu nenhum vereador. Mas, devido à força de atração eleitoral da Manuela, o partido foi veículo para a eleição de 3 vereadores do PPS.

O PSDB da governadora Yeda, apesar de amargar o pior desempenho em eleições majoritárias em todas as eleições disputadas na capital, conseguiu eleger dois vereadores.

A vitória do PT no Rio Grande do Sul - 1

O PT é o partido que obtém a maior vitória eleitoral no RS nessas eleições municipais de 2008. Foi o partido que mais ampliou o número de municípios que governará, passando dos 43 conquistados em 2004 para 63 a partir de 1º de janeiro de 2009 – cerca de 50% de crescimento de titularidade de prefeituras municipais gaúchas. Foram vitórias importantes, que aumentam o ativo político do PT na política gaúcha e que ajudam a recompor a primazia do partido no debate público no RS.

A geografia deste desempenho eleitoral do PT começa com a “varrição petista” na região metropolitana de Porto Alegre e em todo o eixo da BR-116: Viamão, Gravataí, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Esteio, Sapiranga, Sapucaia do Sul, Dois Irmãos. Abrange cidades-pólo e sub-pólo, como Erexim, Santa Rosa, Bagé, Bento Gonçalves. E se plasma em muitos municípios encravados bem no interior do Rio Grande.

Teve também outros 17 vice-prefeitos/as eleitos/as e, além disso, disputa em segundo turno a eleição em Canoas, Pelotas e Porto Alegre. Caxias do Sul, a quarta cidade gaúcha com mais de 200 mil eleitores, e palco de emocionantes disputas entre o PT e o PMDB, teve o resultado definido em primeiro turno em favor do candidato do PMDB, mas outra vez o PT polarizou o debate político.

Os partidos que sofreram as maiores baixas em relação à quantidade de municípios governados foram o DEM, que passará das 18 prefeituras conquistadas em 2004 para 13 nesta eleição; e o PDT, que perdeu 33 cidades administradas em relação a 2004 – passou de 97 municípios governados para 64.

A avaliação conclusiva do resultado eleitoral no RS, contudo, só depois do segundo turno em Canoas, Pelotas e Porto Alegre. E cotejada com um balanço final do resultado no plano nacional.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

As reparações na primavera

A primavera desse 2008 parece chegar plena de reparações. No primeiro domingo primaveril de 2008, no Gre-Nal que tem tudo para ser considerado histórico – seguramente o mais importante destes breves e iniciais anos do século 21 – não houve só uma goleada estrondosa do Inter sobre o rival. Houve o desabamento, a desmaterialização da geringonça paraguaia e enganosa presunção de time de futebol que é o Grêmio Football Portoalegrense. Com o mais profundo respeito ao Paraguai, país vitimado pela invasão de falsificações.

Que foi ao templo do Gigante da Beira-Rio retornou extasiado para o início da primeira semana cheia da primavera desse 2008. E com o sentimento de que no futebol as coisas parecem estar sendo reparadas. Tudo, enfim, se encaminhando pro seu devido lugar. O alívio dos gremistas, que advinha do fato de não terem sido eles a amargarem os 8 a 1 infringidos pelo Inter no Juventude na decisão do Campeonato Gaúcho deste ano, foi agora vivido com um pesadelo pago ao menos pela metade do preço: os 4 a 1 sairam barato; 7 a 2 ficaria adequado.

Que seja um sinal de que na política e nas eleições será possível haver também alguma reparação. Mas pra isso tem-se de jogar com o espírito argentino dominante no Inter. Jogar com “argentinidade”. Com gana de vencer e com gana de atacar sabendo atacar com sabedoria e com senso estratégico.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Discurso de Allende no 11 de setembro de 1973

Não vou renunciar! Colocado nesta encruzilhada histórica, pagarei com minha vida a lealdade do povo. E lhes digo que tenho a certeza de que a semente que foi plantada na consciência digna de milhares e milhares de chilenos não poderá ser ceifada definitivamente. Eles têm a força, poderão nos avassalar, porém não se detêm os processos sociais nem com o crime nem com a força. A história é nossa e a fazem os povos.
...

Seguramente a Rádio Magallanes será calada e o metal tranqüilo de minha voz não chegará mais a vocês. Não importa. Seguirão me ouvindo. (...) Sigam sabendo vocês que, muito mais cedo do que tarde, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passe o homem livre, para construir uma sociedade melhor.

Este são trechos do último discurso proferido pelo Presidente do Chile, Salvador Allende, por volta das 9:12 horas do dia 11 de setembro de 1973 na Rádio Magallanes, sob ruídos de aviões e disparos, diretamente do Palácio de La Moneda, que algumas horas depois seria pesadamente bombardeado, consumando o golpe militar dirigido por Pinochet com apoio dos EUA.

Para ouvir o último discurso de Salvador Allende, clicar aqui.

Na era 11 de setembro

Em 1973, num 11 de setembro trágico para os destinos do povo chileno e da nação latino-americana, se consumou o golpe de Estado do General Pinochet apoiado pela CIA e pelo governo dos Estados Unidos contra o governo socialista de Salvador Allende, que havia sido eleito democraticamente em 1970.

Para a mídia conservadora internacional, apesar disso, o 11 de setembro alude exclusivamente às torres do World Trade Center. Para a consciência histórica, contudo, os 11 de setembro de 1973 e de 2001 são dois lados da mesma terrível condição de domínio imperial que terá fim.

As sanguinárias ditaduras implantadas na América do Sul pelos Estados Unidos nos anos 1960 e 1970 foram as filhas primogênitas dos governos de Washington. Saddam, Noriega, Bin Laden e os Talibãs são seus irmãos mais novos, nascidos nos anos 1980 e 1990 para os interesses de distinta geografia e geopolítica.


Na era pós-11 de setembro

O 11 de setembro será sempre lembrado como uma data delimitadora dos tempos modernos. A cronologia da história cristã contemporânea, que antes se definia como Antes de Cristo [AC] e Depois de Cristo [DC], desde 2001 passou a classificar temporalmente a existência moderna como Before-Eleven [i] e After-Eleven [ii]. Escrito e pronunciado assim mesmo, na “língua pátria” do planeta. Termos que, em tradução livre e não-literal, seriam sinônimos de Nos Tempos de torres no céu [i] e Nos Tempos de torres no chão [ii].

Enquanto os Estados Unidos fazem da auto-vitimização o salvo-conduto para agirem como agem, o mundo fica cada vez pior, mais violento, menos democrático e mais unipolar. Os ataques horrorosos e estúpidos da Al Quaeda em 11 de setembro de 2001, que culminaram com a destruição das torres gêmeas e as mortes inaceitáveis de quase cinco mil civis dos Estados Unidos, foram o álibi que o governo imperial de George Bush ansiava para empreender a onda militarista e policialesca vigente no mundo.


Além de Bush, a lógica neoliberal se comprazia com a descoberta de um vetor [no caso, a guerra] que pudesse empinar a locomotiva da economia mundial em momento de crise e estagnação. Como declarava o Diretor Gerente do FMI, Horst Koehler nas semanas que antecediam o início das operações no Iraque à revelia da deliberação da ONU e do sentimento dos povos de todo o mundo, “uma guerra rápida contra o Iraque será benéfica para os mercados”.


A cruzada dos Estados Unidos nesta “missão” auto-proclamada a favor da civilização e da democracia, contra o “Eixo do Mal” e contra o terrorismo, empreendida a partir do After-Eleven, se ampara num doutrinarismo, obscurantismo e sectarismo próprios dos cinzentos tempos medievais. Que é consentâneo, porém, do retrocesso do conserto entre as Nações, do reacionarismo do Vaticano em fase Opus Dei, da xenofobia européia, do totalitarismo midiático, das guerras de dominação, das guerras de conquista e de mercados supremos e superiores às democracias nacionais.


O mundo só piorou depois de 11 de setembro de 2001. É mais violência, repressão, insegurança e guerras. Aí estão Palestina, Kosovo, Afeganistão, Paquistão, Iraque e todas as demais frentes de batalha – militar, comercial ou econômica – mantidas pelos governos estadudinenses. E, se depender das correntes reacionárias da política dominante naquele país, o mundo continuará piorando.


O 11 de setembro, a Al Quaeda, Saddam Hussein, Talibãs, Guantánamo, Abu Ghraib, mercenários, ditadores e outros gêneros da sordidez e do banditismo internacional são parte da cultura imperialista dos Estados Unidos, e não a sua oposição. São faces da mesma moeda. Estes gêneros todos são criações e conseqüências do Império. Exatamente nesta ordem: primeiro são criados e inventados para determinados fins e interesses; depois, se tornam incômodos, quando não conseqüências trágicas ao próprio Império.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Muitos Caminhos, uma estrela: Memórias de militantes do PT

Amanhã, 09/09, às 19 horas, em cerimônia da qual participam Flávio Koutzzi, Olívio Dutra e Raul Pont, acontece o lançamento no Rio Grande do Sul do livro “Muitos Caminhos, uma estrela: Memórias de Militantes do PT”. O livro, organizado pelos professores Alexandre Fortes (UFRRJ) e Marieta de Moraes Ferreira (UFRJ e CPDOC/FGV), é o primeiro resultado público do Projeto de História Oral do Partido dos Trabalhadores, uma parceria do Centro Sérgio Buarque de Holanda – Documentação e Memória Política da Fundação Perseu Abramo com o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas (CPDOC/FGV).
O evento acontece no Sindicato dos Bancários, na Rua da Ladeira, 324.

domingo, 7 de setembro de 2008

Las malas palabras

Las malas palabras, por Roberto Fontanarrosa, “El Negro”:

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Cenário eleitoral em Porto Alegre

Jeferson Miola
O cenário eleitoral de Porto Alegre parece estar em franca alteração. O que meses atrás pareceria estapafúrdio em análises de cenário eleitoral - como a ausência do PT no segundo turno -, poderá ser uma possibilidade realista, se persistirem as tendências e indicações vigentes.

Seria a primeira vez em 20 anos, desde 1988, quando o PT conquistou Porto Alegre com Olívio Dutra, que o PT ficaria fora da polarização real na cidade que mais originalmente vincou a natureza moderna, democrática e popular das administrações do PT. E que lhe deram evidência nacional e internacional, e lhe premiaram como sede do Fórum Social Mundial e do emergente movimento internacional contra o neoliberalismo.

A posição de potencial favoritismo de Maria do Rosário, perceptível até maio-junho, hoje é contrastada com um sentimento perturbador de estabilização desfavorável da candidatura. Dois aspectos confirmam as evidências preocupantes. Um, que a hipótese de re-eleição, para Fogaça, nunca foi antes tão crível quanto o é agora, favorecido por uma dinâmica eleitoral geral que é despolitizadora e de um “afirmativismo” asséptico. E [2], num contexto de fetichização da política, a Manuela não só parece ser a maior beneficiária, como política e eleitoralmente tem sido poupada das contradições de ter-se vinculado ao que de pior já ocorreu na política gaúcha após o fim da ditadura militar: o brittismo de cepa pura.

Me interrogo, diante desta situação, se em lugar da idéia duma política de “cenário clean em fundo azul celeste” não seria apropriado o antagonismo fundado na crítica, nas contradições dos adversários e na confrontação de projetos – passados e futuros? Não pareceria razoável a candidatura Maria do Rosário - pela tradição de 16 anos de governos do PT na cidade – criar agenda eleitoral e ter a ambição de polarizar o debate sucessório? Seria presunçoso o PT reivindicar a autoria de conquistas fundamentais como o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial e ser ele, o próprio PT através de Maria do Rosário, a anunciar em voz alta e altiva que pode sim retomar tais conquistas, ao invés de outras candidaturas se apropriarem, distorcerem e anunciarem ao povo de Porto Alegre?

É certo que os dirigentes da candidatura Maria do Rosário e a direção do PT em Porto Alegre, com a responsabilidade que conquistaram, devem fazer uma apreciação apurada e rigorosa quanto aos destinos da campanha. [E, tomara, seja tal apreciação de convicção e amparo na realidade oposta às percepções preocupadas aqui alinhavadas]. É de se confiar, também, que corrigirão os rumos que devem ser corrigidos e em tempo adequado para a reversão de tendências aparentemente desfavoráveis.
Seria o pior dos mundos para o PT e para a esquerda brasileira uma hipótese de ausência no segundo turno eleitoral nesta que foi a capital mundial dos sonhos de esquerda.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Laurie Anderson e sua arte libertária

Para quem imagina que no mundo artístico nos Estados Unidos a voz mais ácida é a de Michael Moore, Laurie Anderson é um notável desmentido. Ela se apresenta em Porto Alegre, dentro da programação do 15º Porto Alegre em Cena, com um show que é uma criação complexa, instigante e politicamente forte.

Em termos musicais, sua arte é revolucionária, que faz um sincretismo harmonioso do eletrônico, das cordas e dos teclados. É ópera e rock. É ópera de rock progressivo, podendo ser também uma batida despretensiosa de sons primitivos. Consegue no violino os lamentos doídos e profundamente tocantes para a expressão de acordes mais dramáticos.

As letras das músicas - que são verdadeiros discursos musicados – são o hino duma melhor consciência política e anti-imperialista. E ela não é só contra Bush e seus partidários republicanos. Ela é ferozmente contra o sistema. Com uma consciência aguda do mal que os Estados Unidos faz ao mundo a partir da condição que se auto-imputa, de um protestantismo que o faz se definir como um país predestinado a civilizar o mundo e a humanidade. Ela expõe tudo isso com uma sutileza e inteligência diferenciada. A parábola e a metáfora são recursos usados em medida exata, e por isso concedem maior força argumentativa e fidúcia às suas convicções.

Laurie Anderson é um alento na arte e na política. Prova que a busca pela liberação não está fora de moda, de que se pode fazer arte com engajamento político e ambição libertária. Nestes tempos tenebrosos, com seus 61 anos ela é um saudável anúncio de que a história está longe do fim e de que os imperialismos, totalitarismos e capitalismos - esses sim - têm de ter fim.