Para quem imagina que no mundo artístico nos Estados Unidos a voz mais ácida é a de Michael Moore, Laurie Anderson é um notável desmentido. Ela se apresenta em Porto Alegre, dentro da programação do 15º Porto Alegre em Cena, com um show que é uma criação complexa, instigante e politicamente forte.
Em termos musicais, sua arte é revolucionária, que faz um sincretismo harmonioso do eletrônico, das cordas e dos teclados. É ópera e rock. É ópera de rock progressivo, podendo ser também uma batida despretensiosa de sons primitivos. Consegue no violino os lamentos doídos e profundamente tocantes para a expressão de acordes mais dramáticos.
As letras das músicas - que são verdadeiros discursos musicados – são o hino duma melhor consciência política e anti-imperialista. E ela não é só contra Bush e seus partidários republicanos. Ela é ferozmente contra o sistema. Com uma consciência aguda do mal que os Estados Unidos faz ao mundo a partir da condição que se auto-imputa, de um protestantismo que o faz se definir como um país predestinado a civilizar o mundo e a humanidade. Ela expõe tudo isso com uma sutileza e inteligência diferenciada. A parábola e a metáfora são recursos usados em medida exata, e por isso concedem maior força argumentativa e fidúcia às suas convicções.
Laurie Anderson é um alento na arte e na política. Prova que a busca pela liberação não está fora de moda, de que se pode fazer arte com engajamento político e ambição libertária. Nestes tempos tenebrosos, com seus 61 anos ela é um saudável anúncio de que a história está longe do fim e de que os imperialismos, totalitarismos e capitalismos - esses sim - têm de ter fim.
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