sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Yeda, o Coronel Mendes e o colono sem-terra Elton

Durante seu recolhimento de avestruz no Palácio das Hortências em Canela, dentre as raras visitas que a Governadora Yeda recebeu naqueles dias, uma muito intrigante foi a do Coronel Mendes. Vale recordar que o Coronel Mendes, de atuação truculenta, covarde e impiedosa com os movimentos sociais, quando esgotado o prazo legal no Comando da Brigada Militar, foi premiado por Yeda como Juiz [sic] do famigerado Tribunal Militar do RS.

O clima, naquela primeira semana de agosto, era de denúncias da corrupção e do descalabro do governo, acompanhado de manifestações sociais vigorosas, promovidas por organizações civis.

Quando se encontraram em Canela, Yeda e Coronel Mendes devem ter delineado os planos de atuação das polícias, as operações de guerra e as medidas repressivas que seriam adotadas em reação ao cenário desfavorável e de mobilização social intensa. Afinal, é assim que fazem governantes desmoralizados, enfraquecidos e intolerantes com o que lhe é adverso: praticam a violência drástica.

O colono sem-terra Elton Brum da Silva, que fazia parte da ocupação da Fazenda Southall, foi alvejado no peito com tiros de espingarda doze da Brigada Militar. Eltom se tornou, com o drama da sua morte, a primeira e visível vítima fatal do política repressiva inconseqüente delineada por Yeda e o Coronel Mendes.

É absolutamente inaceitável a execução de uma ordem de desocupação de homens, mulheres e crianças com contingentes exagerados e de Polícia de Choque e policiais portando armas e munições letais. Para quê? Se existem munições não-letais, para quê usar as letais, isso se comprovadamente fosse o caso de usá-las? Para quê? Mil vezes: para quê, Governadora Yeda e Coronel Mendes?

O governo Yeda, que matou a moral, a ética e a dignidade da política, acabou de assassinar o colono Elton. Lamento a naturalização que se faz da quebra dos valores democráticos, substituindo-os também naturalmente pela opressão e selvageria oficiais.

A mídia tem parcela importante de responsabilidade nisso. A mídia, que tanto glamourizou o Coronel Mendes como um Rambo heróico e sempre espetacularizou suas ações violentas, deveria ser um vetor de educação democrática, não de sacralização da violência estatal contra o povo como método de contenção numa sociedade civilizada.
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Complemento às 15:55 h: as informações são de que Elton foi morto covardemente, pelas costas e com tiro à queima-roupa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Carta da Marina ao PT

A íntegra da carta enviada por Marina Silva ao Presidente do PT neste cataclísmico19 de agosto de 2009.
A fidalguia da Marina em todo o processo que vivenciou nos últimos longos tempos de reflexões foi expressa outra vez nesta carta, onde não faltaram lealdade ao PT, reverência à história do PT e agradecimentos a petistas [porém sem menção de agradecimento específico ao presidente de honra {e de fato} do PT sarneyzado, o Presidente Lula].

Caro companheiro Ricardo Berzoini,

Tornou-se pública nas últimas semanas, tendo sido objeto de conversa fraterna entre nós, a reflexão política em que me encontro há algum tempo e que passou a exigir de mim definições, diante do convite do Partido Verde para uma construção programática capaz de apresentar ao Brasil um projeto nacional que expresse os conhecimentos, experiências e propostas voltados para um modelo de desenvolvimento em cujo cerne esteja a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O que antes era tratado em pequeno círculo de familiares, amigos e companheiros de trajetória política, foi muito ampliado pelo diálogo com lideranças e militantes do Partido dos Trabalhadores, a cujos argumentos e questionamentos me expus com lealdade e atenção. Não foi para mim um processo fácil. Ao contrário, foi intenso, profundamente marcado pela emoção e pela vinda à tona de cada momento significativo de uma trajetória de quase trinta anos, na qual ajudei a construir o sonho de um Brasil democrático, com justiça e inclusão social, com indubitáveis avanços materializados na eleição do Presidente Lula, em 2002.

Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.

Tenho a firme convicção de que essa decisão vai ao encontro do pensamento de milhares de pessoas no Brasil e no mundo, que há muitas décadas apontam objetivamen te os equívocos da concepção do desenvolvimento centrada no crescimento material a qualquer custo, com ganhos exacerbados para poucos e resultados perversos para a maioria, ao custo, principalmente para os mais pobres, da destruição de recursos naturais e da qualidade de vida.

Tive a honra de ser ministra do Meio Ambiente do governo Lula e participei de importantes conquistas, das quais poderia citar, a título de exemplo, a queda do desmatamento na Amazônia, a estruturação e fortalecimento do sistema de licenciamento ambiental, a criação de 24 milhões de hectares de unidades de conservação federal, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro. Entendo, porém, que faltaram condições políticas para avançar no campo da visão estratégica, ou seja, de fazer a questão ambiental alojar-se no coração do governo e do conjunto das políticas públicas.

É evidente que a resistência a es sa mudança de enfoque não é exclusiva de governos. Ela está presente nos partidos políticos em geral e em vários setores da sociedade, que reagem a sair de suas práticas insustentáveis e pressionam as estruturas políticas para mantê-las.

Uma parte das pessoas com quem dialoguei nas últimas semanas perguntou-me por que não continuar fazendo esse embate dentro do PT. E chego à conclusão de que, após 30 anos de luta socioambiental no Brasil - com importantes experiências em curso, que deveriam ganhar escala nacional, provindas de governos locais e estaduais, agências federais, academia, movimentos sociais, empresas, comunidades locais e as organizações não-governamentais - é o momento não mais de continuar fazendo o embate para convencer o partido político do qual fiz parte por quase trinta anos, mas sim o do encontro com os diferentes setores da sociedade dispostos a se assumir, inteira e claramente, como agentes da luta por um Brasil justo e sustentável, a fazer prosperar a mudança de valores e paradigmas que sinalizará um novo padrão de desenvolvimento para o País. Assim como vem sendo feito pelo próprio Partido dos Trabalhadores, desde sua origem, no que diz respeito à defesa da democracia com participação popular, da justiça social e dos direitos humanos.

Finalmente, agradeço a forma acolhedora e respeitosa com que me ouviu, estendendo a mesma gratidão a todos os militantes e dirigentes com quem dialoguei nesse período, particularmente a Aloizio Mercadante e a meus companheiros da bancada do Senado, que sempre me acolheram em todos esses momentos. E, de modo muito especial, quero me referir aos companheiros do Acre, de quem não me despedi, porque acredito firmemente que temos uma parceria indestrutível, acima de filiações partidárias. Não fiz nenhum movimento para que outros me acompanhassem na saída do PT, respeitando o espaço de exercício da cidadania política de cada mil itante. Não estou negando os imprescindíveis frutos das searas já plantadas, estou apenas me dispondo a continuar as semeaduras em outras searas.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Saudações fraternas.

Marina Silva

terça-feira, 18 de agosto de 2009

O fator Marina

Jeferson Miola

Anunciaram e garantiram
Que o mundo ia se acabar;
Por causa disso a minha gente
Lá de casa se botou a rezar ...

“E o mundo não se acabou”, Adriana Calcanhoto [letra Assis Valente]

Para além da guerra de bugios que domina o noticiário de Brasília, um movimento de grande impacto ganha contorno nos bastidores da política nacional: a preparação da candidatura presidencial de Marina Silva pelo PV.

Enquanto os holofotes se concentram no lodaçal do Senado, a mídia pouco repercute o frisson político gerado por tal hipótese. Mas o clima é o que em física se chama “estado de ebulição”. A razão é ponderável: a candidatura Marina embaralha o jogo eleitoral de 2010, tido até então como a reedição do confronto PT versus PSDB.

A cada dia multiplicam-se as operações políticas visando dissuadí-la da decisão de candidatar-se. Ato, aliás, que implicaria sua saída do PT. Além de afetar eleitoralmente a candidatura Dilma, também teria o efeito colateral de animar a conhecida aspiração de Ciro Gomes, significando mais dispersão eleitoral na base do Governo Lula. O peso real que terá nas eleições, contudo, é incerto e ainda difícil de ser aferido.

Mesmo se não confirmar a candidatura, a mera cogitação de Marina Silva como candidata abre, por si, o debate a respeito da dimensão ecológica e ambiental no desenvolvimento do país. É um debate crucial e inadiável, porque estamos diante duma ameaça concreta à civilização humana em decorrência da devastação acelerada do planeta. Até 2001, cientistas previam que a persistência do padrão predatório de produção e consumo do sistema capitalista ocasionaria importantes catástrofes no mundo nos próximos séculos. Nos últimos anos, todavia, as previsões científicas anteciparam os sombrios prognósticos já para os próximos 30 anos ou até antes deste prazo.

O Brasil não está fora deste preocupante roteiro, porém possui condições privilegiadas em todos os aspectos. O país pode, por isso, liderar a aplicação de estratégias de desenvolvimento sócio-ambiental de efeito exemplar para todo o mundo. Com a consciência, entretanto, de que os conceitos desenvolvimentistas e produtivistas fazem parte do problema, e não das soluções requeridas nesta época de dramática crise civilizacional e de comprometimento da própria existência humana no futuro próximo.

A dimensão ambiental é, cada vez mais e de modo imperativo, indissociável da economia, da cultura, da moral e da política. Por esse motivo, necessita ser incorporada ao raciocínio acerca de uma outra nação, uma outra economia, uma outra cultura e uma nova organização da sociedade. Devem ser inventadas formas aceitáveis de produção e consumo para a satisfação das necessidades humanas com racionalidade e equilíbrio. O capitalismo e as antigas experiências do leste europeu – em verdade duas inteirezas do mesmo equívoco - demonstram-se modelos histórica e humanamente fracassados diante deste desafio.

O melhor dos mundos para o PT é a permanência de Marina. Em qualquer cenário, no entanto, Marina já se tornou o fator diferencial do período. A agenda sócio-ambiental finalmente assumirá a centralidade que nossa época exige. Até por uma questão de sobrevivência.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Guernica de 1937 é a Gaza do século 21

Em 27 de abril de 1937, precisos 72 anos atrás, a cidade santa dos bascos, Guernica, era duramente bombardeada pela ditadura do Generalíssimo Franco com o apoio da força aérea nazista de Hitler. Na época, uma tríade inaugurava um período de atrocidades e monstruosidades da Europa para o mundo: a Espanha era governada ditatorialmente por Franco, a Alemanha por Hitler, e a Itália por Mussolini.

Cidade histórica de forte valor simbólico para a cultura e para a nacionalidade basca, a minúscula Guernica, habitada por aproximadamente sete mil habitantes, foi exemplarmente agredida, e serviu como uma espécie de ante-sala, um “test drive” dos horrores nazi-fascistas. Reduzida a pó, cinzas e destroços materiais e humanos depois dos ataques estúpidos da artilharia aérea alemã, Guernica foi celebrizada pelo pintor Pablo Picasso, na tela que leva o mesmo nome.


Emocionante reportagem publicada pelo jornalista sul-africano George Steer, enviado do The Times [de Londres] em Guernica, escrita no dia seguinte ao massacre, dava conta da tragédia daqueles dias com a dramática descrição:
Às duas horas da manhã de hoje, quando visitei a cidade, seu conjunto era uma visão horrível, ardendo de ponta a ponta. O reflexo das chamas podia ser visto nas nuvens de fumaça acima das montanhas a dez milhas de distância. Durante toda a noite, casas caíam até que as ruas se tornassem longas pilhas de destroços vermelhos impenetráveis. Muitos dos sobreviventes civis faziam a longa jornada de Guernica a Bilbao em antigas e sólidas carroças de fazendas bascas puxadas por bois. Essas carroças levando altas pilhas de todo o tipo de pertences domésticos que pudessem ser salvos da conflagração obstruíam as estradas noite adentro. Outros sobreviventes foram evacuados em caminhões do governo, mas muitos eram forçados a permanecer em torno da cidade incendiada deitados em colchões ou procurando por parentes e crianças perdidas, enquanto unidades dos bombeiros e da polícia basca motorizada, sob orientação pessoal do ministro do Interior, Senhor Monzon e sua esposa, continuavam o trabalho de resgate até o amanhecer.”.
A reportagem completa do The Times, traduzida para o português, pode ser lida no Via Política.

A Guernica de 1937 tem na Gaza do século 21 a persistência duma idêntica monstruosidade assassina que insiste em não ter fim.

domingo, 26 de abril de 2009

Mais além do cretinismo parlamentar

Jeferson Miola
Diante de escândalos como os que envolvem, por exemplo, “suas excelências” do Congresso Nacional, sempre há o risco da generalização de responsabilidades e da despolitização da análise. Até porque amaldiçoar a política e os políticos é o esporte predileto dos privatistas de toda espécie, que propugnam a superioridade do mercado e da esfera privada em relação à esfera pública, à política e à democracia.

Com a ausência de vozes parlamentares insurgentes a toda a patifaria e canalhice de “suas excelências” do Congresso Nacional, entretanto, é inevitável o total descrédito da política brasileira atual e dos atuais mandatários.

A desfaçatez das Mesas da Câmara e do Senado na preservação das mordomias e regalias com “outras técnicas” diversionistas, é acompanhada do “silêncio cretino” de parlamentares dos quais, no mínimo, se esperaria uma reação sensata e de maior espírito público. A sensação, tristemente, é de captura ampla, generalizada.

Neste quadro de deterioração do exercício da função pública, me inclino seriamente, nas eleições de 2010, a somente votar em candidato/a que, no bojo de sua ação parlamentar e além de outros compromissos políticos gerais de esquerda, também assumir com prioridade determinados compromissos de mandato, como:

- ampla reforma política com adoção de listas partidárias, federação de partidos, financiamento público, fidelidade partidária, proibição de coligações proporcionais e cláusula de barreira;

- obrigatoriedade de quotas mínimas de mulheres e afro-descendentes em listas partidárias;

- adoção do unicameralismo, com a conseqüente extinção do Senado Federal;

- mudanças do sistema de voto eletrônico, introduzindo a impressão de comprovantes de votação e a amostragem obrigatória do escrutínio;

- revisão da periodicidade e dos calendários eleitorais, unificando datas e ampliando a duração de mandatos para pelo menos cinco anos;

- revogabilidade de mandatos executivos e legislativos, mediante mecanismos periódicos e/ou circunstanciais para a revisão da representação eletiva;

- redução do número de deputados federais, estaduais e vereadores e eliminação das distorções quanto ao número de parlamentares por unidades da federação;

- adoção de princípios plebeus e não-profissionais para o exercício de mandatos, com o rechaço dos “mecanismos acessórios” e não-essenciais, que são, em verdade, fontes de corrupção e de “captura” pelos privilégios e facilidades;

- reforma ampla do judiciário, com extensão e magnitude equivalentes à reforma política necessária e exigida.

sábado, 18 de abril de 2009

Cretinismo parlamentar

Por Jeferson Miola, publicado no Jornal Zero Hora em 18 de abril de 2009.

O fenômeno do cretinismo parlamentar é tão antigo quanto pernicioso à representação pública e à democracia. Nos longínquos 1851 e 1852, Marx e Engels já se referiam a ele como “aquela doença peculiar” “... que mantém os elementos contagiados [ou seja, os parlamentares] firmemente presos a um mundo imaginário, privando-os de todo senso comum, de qualquer recordação de toda compreensão do grosseiro mundo exterior ...”.

Os privilégios dos deputados e senadores brasileiros revelam que eles vivem, de fato, “firmemente presos a um mundo imaginário”, alheio à realidade do país e do cidadão comum que os elegeu como representantes. No mundo em que se enclausuraram, “suas excelências” vivem num reino distinto.

Recebem dinheiro para se tratarem por fora do SUS ou de planos privados de saúde; ganham quinze polpudos salários por ano; alguns usam a gandaia de passagens aéreas até para a turma da namorada; fazem turismo no estrangeiro; emprestam telefone oficial para filhas usarem em viagem ao exterior; recebem três mil reais de auxílio moradia, mais de quatro mil de quota telefônica e quinze mil de “verba indenizatória”; e se valem de toda a sorte de regalias.

A sedução material é irmã-gêmea do cretinismo parlamentar. As condições especialíssimas que se autoconcedem os parlamentares geram distorções gritantes, assemelhando um mandato parlamentar a um negócio. O de deputado federal, por exemplo, gira um orçamento anual de R$ 1,5 milhão e pode empregar até 25 funcionários com salários entre 710 e 9.500 reais. Exibe um vigor econômico superior à realidade da grande maioria das micro e pequenas empresas brasileiras, que segundo o IBGE faturam até R$ 1,1 milhão ao ano e empregam em média sete trabalhadores remunerados com entre 2 e 3,1 salários mínimos.

Assim como é deplorável esta realidade, é lastimável a reação diversionista dos congressistas, que agem pensando que o povo e a imprensa são otários. Reforçam o irrealismo do luxo e da ostentação do poder no país – também visível no Executivo e no Judiciário -, que é baseado na suntuosidade de mansões, choferes, carrões, salários nababescos, carteiraços, mordomias e desmandos.

O esforço da sociedade para garantir o funcionamento das instituições e da democracia deveria ser correspondido com austeridade e espírito plebeu, aproximando a realidade dos “representantes” populares com a de seus “representados”. Agindo da forma como vêm agindo, contudo, os parlamentares ficam cada vez mais “firmemente presos a um mundo imaginário”, ensimesmados na sua onipotência, onisciência e imunidade, tratando o Brasil como sua capitania hereditária.

quarta-feira, 4 de março de 2009

AGACIEL Maia. De trás pra diante: LEICAGA

Quinhetos e picos de anos não são nada na permanente descoberta do verdadeiro Brasil das velhas oligarquias.

Nestes dias, o povo brasileiro é informado que o Senado da República [instituição carcomida, que sequer deveria existir] possuía um Diretor-Geral no cargo há 14 anos que coleciona tantas suspeitas de corrupção quanto o exagerado tempo de duração de sua capitania hereditária no Senado. Mas só agora caiu, quando foi exposta a situação duvidosa de uma mansão de valor entre R$ 5 e R$ 6 milhões averbada em nome do irmão, um Deputado Federal - outra excelência das Brasília.

O nome do Diretor-Geral do Senado, não fosse um deboche, seria cômico: lendo-o de trás pra diante, pode-se tratá-lo como LEI-CAGA. Ou, quem sabe, no berço de sua origem oligárquica de presunção da eterna impunidade, não queira dizer: Andando e Cagando pra Lei. Confesso uma certa curiosidade em saber o que passava pela mente do progenitor de LEI-CAGA, quando resolveu batizá-lo como AGACIEL. Qual seria o profundo sentido existencial, simbólico e principalmente premonitório que reservava ao seu filhinho posto no mundo para dele tirar todo o proveito?

Sabe-se também que o distinto Diretor-Geral administrava a verba bilionária de R$ 2,7 bilhões ao ano do Senado.
Tirante o escândalo do LEI-CAGA em si, há outro escândalo não explorado: o orçamento do Senado permite concluir-se que:

- o povo brasileiro assiste sair pelo ralo anualmente R$ 2.700.000.000,00 para sustentar uma instituição de duvidosíssima valia para a democracia;

- cada uma das 81 excelências senatoriais custa anualmente ao povo brasileiro o valor de R$ 33.333.333,00.

- cada uma das 81 excelências senatoriais custam por mês o valor de R$2.777.778,00.

- o povo brasileiro dispende todo santo dia, para cada uma das 81 excelências senatoriais, o valor de R$ 92.593,00.

Boa oportunidade para discutir-se a reforma política completa, incluindo no cardápio o unicameralismo, com a extinção do Senado Federal.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

“Experimentalismo” voyeurista

Jeferson Miola
A primeira experiência de administração petista no município de Canoas traz a marca do “experimentalismo” político. Com o peso no contexto econômico e político gaúcho – a cidade ostenta o segundo PIB municipal do Estado, ficando somente atrás da capital Porto Alegre; e é a quarta mais populosa do Rio Grande do Sul, com 323.705 habitantes [FEE, 2006] – é inevitável que o “experimentalismo” da gestão petista-pepista [PT-PP] em Canoas estimule a polêmica política.

A aliança tendo o PP no cargo de Vice-Prefeita, considerada pelos petistas de Canoas como “condição fundamental para se vencer as eleições”, causou mal-estar e controvérsia entre vários setores do PT [mas sem que houvesse qualquer vedação das instâncias partidárias, é bom dizer]. Afinal, sempre é difícil compreender a idéia de coalizão governamental do PT com o PP no Rio Grande do Sul, um partido conservador que faz do combate ferrenho ao PT sua profissão de fé, e ocupa postos chaves no governo Yeda Crusius. Além disso, a implicação de importantes dirigentes do PP nos escândalos de corrupção do Detran reforçariam a distância entre as duas agremiações.

Numa nova e ousada aposta, o prefeito Jairo Jorge nomeia Cézar Busatto como Secretário Especial de Inovação e Projetos Estratégicos. A biografia de Cézar Busatto não deixa dúvidas de sua incompatibilidade atávica com o PT: foi um dos principais artífices do desastre neoliberal do governo Britto no Rio Grande do Sul, de cujos efeitos o Estado padece e continuará sofrendo por muitos anos vindouros. E Busatto foi um dos que idealizou o combate odioso e rancoroso como método de oposição e demonização do PT e para a desconstituição simbólica do partido.

O novo Secretário de Inovação [sic] de Canoas, quando Chefe da Casa Civil do também desastroso Governo Yeda, nas confissões feitas ao Vice-Governador expôs o abismo que separa sua prática política de tudo o que o PT defende. E ele ainda demonstrou que, em matéria de inovação, é adepto ortodoxo do velho habitus político.

O prefeito Jairo Jorge tem liberdade de compor o governo da maneira que melhor julgar, porém a nomeação de Busatto esgarça totalmente a mais básica racionalidade política. É difícil compreender. Seria o mesmo que o Presidente Lula, o rei da “elasticidade política”, nomear seu algoz Arthur Virgílio [PSDB] Ministro de Estado do seu governo!! Seria simplesmente incompreensível.

Para alguns do PT, o pragmatismo virou finalidade, o objetivo último da política, a maneira mais segura para vencer, mesmo sem se saber o que significa vencer e para quê vencer. O pragmatismo prescinde o pensamento teórico, a estratégia, o programa, o debate fecundo e a idéia da construção histórica e paciente de uma hegemonia de esquerda. Este parece ser, cada vez mais, o PT.

O PT não morreu, como proclamava faceira a direita lacerdista e fascista em 2005. Esse era o sonho de consumo dos aliados de Busatto, que festejavam o “fim da raça” dos petistas. O PT, desde então, está cada vez mais vivo e mais forte. Nas eleições de 2006 e 2008, foi um dos partidos que mais cresceu. Ampliou prefeituras governadas e o número de vereadores e deputados eleitos. Se espraiou para todo o interior do país.
O PT é muito maior e bem mais forte que no início do governo Lula. A questão, contudo, é: qual PT cresceu e vem vingando forte?! O novo PT cada vez evoca menos – ou não mais evoca - os fundamentos que lhe deram origem e que explicavam as “razões militantes” e as “razões da política” para uma geração inteira de esquerda do país. Por isso é de se perguntar qual a aprendizagem política de muitos jovens petistas que se integram – e se entregam de alma – a responsabilidades e tarefas institucionais no marco da desconstituição teórica, ideológica e programática verificável na experiência petista-pepista de Canoas.

Com suas inovações e “experimentalismos”, Canoas pelo menos tem o mérito de expor uma fisionomia que é marcante do PT [ou do pós-PT]. E o faz como numa espécie de espetáculo voyeurista, explícito.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Brasil deveria propor Conselho de Segurança na Faixa de Gaza

A visita que faz o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, a Palestina e Israel, apesar de válida e importante, poderia ser substituída por um gesto mais agudo de diplomacia, se o Brasil deseja se credenciar como poder ativo e de influência efetiva na diplomacia internacional.

Por exemplo, o Brasil poderia tomar a iniciativa de propor a instalação do Conselho de Segurança da ONU na Faixa de Gaza até que as resoluções das Nações Unidas, sistematicamente descumpridas por Israel com a complacência dos EUA, fossem cumpridas. No mínimo, a presença do Conselho de Segurança e de autoridades de todo o mundo impediriam o prosseguimento do banditismo genocida que está em curso na Faixa de Gaza.

Agora que finalmente o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, pretende ir ao Oriente Médio fazer novos “apelos” de cessar-fogo, ganharia ainda maior transcendência uma proposta dessa natureza feita pelo governo brasileiro. Aliás, seria até uma forma de compensar o imperdoável atraso do maior dirigente da ONU, que sinaliza a viagem somente depois de feroz destruição e quase mil mortes contabilizadas, a imensa maioria crianças e civis palestinos.

Seria, enfim, uma tentativa digna diante da indecência com que as Nações Unidas se curvam aos mais flagrantes crimes de guerra que estão sendo cometidos por Israel.