sexta-feira, 20 de outubro de 2006

A direita e sua pregação odiosa

Eleição deveria ser um momento privilegiado de educação política e de pedagogia cidadã. Na vida, entretanto, não é bem assim. Infelizmente os setores situados na direita do espectro ideológico representados nas candidaturas de Alckmin e Yeda/Feijó, semeiam o ódio, a violência e o preconceito.

Com estes gestos, estimulam o conflito não só na campanha eleitoral, mas na própria estrutura da sociedade. Aos apoiadores de Lula e Olívio, resta a sensatez e a serenidade para não cairem em provocações e tampouco responderem na mesma moeda. Sobre o comportamento inaceitável da direita e sua cruzada odiosa, leia o artigo na íntegra adiante ...


Jeferson Miola, integrante do IDEA – Instituto de debates, estudos e alternativas de Porto Alegre

Os mesmos setores que hoje apóiam a candidata Yeda/Feijó e que governaram o Rio Grande do Sul fizeram uma oposição violenta e contínua ao governo Olívio, desde antes do governo começar.

O ex-governador Britto abandonou o Rio Grande e foi para o exterior antes da posse, deixando o vice do PSDB transmitir o cargo.

Fizeram uma oposição furiosa, cega; faltou civilidade no trato político. Nada do que o governo propunha era tratado com serenidade. Combatiam todas as propostas do governo para melhorar o Rio Grande. O conflito e a agressão – inclusive à honra e à imagem pessoal – foram os métodos da ação política dos partidos de oposição ao Governo Democrático-Popular.

Até o Fórum Social Mundial foi combatido pela simples razão de ser uma iniciativa que aconteceu no governo Olívio. Prevalecia o obscurantismo e o sectarismo no debate político.

O Pacto pelo Rio Grande, promovido pela Assembléia Legislativa neste ano, incorporou parte importante da agenda que o governo Olívio tentou discutir serenamente com a oposição naqueles anos turbulentos da política gaúcha. Se alguns pontos do que foi proposto lá atrás, como o fim da guerra fiscal, das anistias a sonegadores, o teto salarial, a nova matriz tributária, o apoio aos SLPs e a diminuição da diferença entre os maiores e menores salários tivessem sido aprovados, a situação do Rio Grande hoje seria melhor. Mas infelizmente a oposição conservadora priorizou a guerra política em detrimento dos interesses do Estado.

Em 2002 Rigotto foi eleito sucessor de Olívio ironicamente com o discurso da “pacificação” do Rio Grande. A pacificação, no caso, representava a retomada do poder pelas mesmas forças que incendiaram o Estado quando não estavam no comando do aparelho estatal – PMDB, PSDB, PFL, PPS, PTB e outras agremiações satélites.

Quando se presumia que o obscurantismo e a mistificação tivessem sido superados, este comportamento ressurge com redobrada força nesta eleição. Ao menor sinal de que Olívio poderá vencer a eleição estadual, soa o alarme reacionário. Lamentavelmente a direita ressuscita o mesmo espírito rancoroso do passado. Ressuscita o ranço anti-petista e uma pregação ideológica carregada de ódio e preconceitos que pode ser observada nas candidaturas de Yeda/Feijó e Alckmin.

Os apoiadores de Yeda/Feijó fazem manifestações que estimulam a violência e o preconceito. Ninguém esquece o Bornhausen, que queria a extinção da “raça dos petistas” por 30 anos. Nessa campanha também não faltam materiais publicitários ofensivos, discriminatórios e racistas.

É perigoso este tipo de comportamento, que não colabora para a construção de uma cultura de paz. Ao contrário, estimula a violência inclusive física. O episódio ocorrido no Leblon, no Rio de Janeiro, em que uma apoiadora fanática de Alckmin amputou o dedo de uma petista com uma mordida, é um exemplo do animus criado pela cruzada odiosa da turma do PSDB, PFL e seus aliados.

No saite de Yeda/Feijó tem apoiadores da candidata que escrevem com ódio contra o PT. Lá se encontram coisas como “Não existe meio combate ao petismo. Terá de ser inteiro.” Em outro saite que apóia a candidata tem coisa como “Vamos fazer campanha para Yeda Crusius. Se a gente pudesse esmagar com o dedo o PT na cidade, a gente esmagava. Não vamos deixar se criarem aqui.”.

A própria candidata usa expressões complicadas: “Lula vai apanhar de relho. Chega deles lá e aqui.”. Nos jornais, tem reportagens que mostram que todos os partidos se juntaram não a favor do Rio Grande, mas contra o PT – e eles fazem questão de vincar esta idéia na sociedade.

Esta forma de fazer política não serve, não constrói o futuro. É a forma de quem só é contra, de quem é incapaz de fazer política com respeito e diálogo e a favor do bem comum. A declaração de um dirigente do PP é exemplar: “O que existe no PP é um antipetismo muito forte. Qualquer possibilidade que se tem de votar contra o Olívio, se vota mesmo.”. Apesar das cúpulas partidárias, as bases e os agentes públicos desses partidos têm declarado apoio a Olívio e a Lula neste segundo turno.

Essas atitudes são incompatíveis para quem quer governar um Estado e um país. Prenunciam a própria violência que, num eventual governo, seriam capazes de praticar contra as correntes políticas na oposição ao seu regime. A declaração golpista de Alckmin, de que o segundo governo Lula “acaba antes de governar”, revela a face autoritária e intolerante do PSDB e seus aliados. Numa trama com a mídia - já comprovada -, criaram o segundo turno justamente para desencadearem outra etapa de deslegitimação, enfraquecimento e desestabilização do segundo governo Lula antes do seu efetivo começo, pois nunca alimentaram a ilusão da vitória.

A direita lá e aqui, com Alckmin e Yeda/Feijó, tem clareza quanto ao objetivo de combater o petismo, a frente popular e tudo o que representa a esquerda no país e no Rio Grande do Sul. Os interesses poderosos contrariados pelos governos democráticos e populares despertam o reacionarismo e uma escalada impressionante de violência. A ressurreição do anti-petismo faz rebrotar, dialeticamente, o vigor e a vitalidade do genuíno petismo que, como na manifestação memorável de 1998, construirá a vitória do futuro e das luzes sobre o obscurantismo e o fundamentalismo.

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