terça-feira, 19 de setembro de 2006

A Herança Farroupilha

Por Olívio Dutra, publicado no Correio do Povo de 19 setembro 2006

As gaúchas e os gaúchos têm todo o direito de comemorar com muito orgulho a data de Vinte de Setembro, a nossa Revolução Farroupilha. São raros os acontecimentos que varam o tempo e se projetam para o futuro, criando símbolos permanentes e uma cultura específica. A revolução dos farrapos é um deles. Foi um fato histórico relevante não apenas para o RS, mas - e isso poucos percebem - para o Brasil. Por isso mesmo, quando celebramos mais um aniversário do decênio heróico, devemos, além da festa, justa e necessária, pensar sobre ele, refletir sobre as razões que tornaram a revolução não apenas um acontecimento datado no calendário, mas o fato que desencadeou a descoberta do gaúcho, a sua identidade, o seu jeito de ser.


Pois a Revolução Farroupilha teve um conteúdo profundo e antecipador. Não é por acaso que revolucionários europeus, como os italianos Luigi Rossetti, Tito Lívio Zambeccari e o grande Garibaldi participaram ativamente da Revolução que por dez anos resistiu ao Império. A revolução dos farrapos tinha uma ideologia inovadora que perpassava todos os interesses materiais que a motivaram. Ela estava positivamente influenciada pelas idéias renovadoras que sacudiram a Europa nos séculos XVIII e XIX, estava construída nas pegadas do Iluminismo e erguia bandeiras que só no final do século XIX iriam se tornar realidade no Brasil: a República, que, segundo os ousados revolucionários, era inseparável da liberdade, da igualdade e da humanidade. Foi, portanto, uma revolução liberal e republicana.


Assim, esse legado profundo não pode ser esquecido, não pode ser deixado em segundo plano, mas ser lembrado sempre para não submergirmos na tentação perigosa da mera 'folclorização' da data. Ainda mais que muitos dos aspectos do programa farroupilha continuam extremamente atuais e, principalmente, a idéia de República, que ainda está para ser plenamente realidade em nosso país.


Celebremos mais um aniversário da grande revolução, com alegria e com orgulho, relembrando coletivamente as nossas tradições culturais, os nossos costumes que nos formaram como povo que soube receber e assimilar as outras etnias que aqui aportaram e que também contribuíram para que o RS viesse a se tornar o que hoje é. Mas sem esquecer que o Vinte de Setembro foi fundamentalmente uma corajosa e imorredoura ação política que viria a ter profunda influência no futuro da nação brasileira. E, principalmente, sem olvidarmos o fato de que muito do que sonharam os revolucionários de 1835 ainda está por ser feito.

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