domingo, 24 de junho de 2007

Palestina, Oriente Médio e o “risco de guerra total”

Em entrevista na FSP o professor de história da Universidade Harvard e pesquisador da Universidade Oxford, Niall Ferguson, traz um alerta de que “o próximo grande conflito global começará no Oriente Médio”. E diz ainda que “a probabilidade de que Bush ordene uma ação militar antes de deixar a Casa Branca é de 50%”.

A omissão do mundo em dar respostas satisfatórias às graves crises em curso em muitos países da região – em especial na Palestina [clicar para ler], Iraque e Líbano – poderá trazer conseqüências imponderáveis, como se percebe no tom das opiniões de Niall a partir de alguns trechos da entrevista aqui transcritos:

“Em primeiro lugar, a importância econômica do Oriente Médio está crescendo, pois nossa dependência de combustíveis fósseis não caiu. O Oriente Médio é a principal fonte futura de petróleo e gás natural. A idéia de que isso não importa é economicamente ridícula.

Em segundo lugar, o nível de violência no Oriente Médio é altíssimo e tem potencial para crescer ainda mais. Cerca de 3.000 pessoas são mortas no Iraque todo mês, e a tendência é que esse número aumente se os EUA se retirarem do país. Há risco de guerra total, entre os EUA e o Irã e entre Israel e o Irã. É uma região extremamente perigosa.


Ao olharmos para o século 20 notamos que uma enorme proporção dos conflitos ocorreu no leste e no centro da Europa, e há boas razões para isso. Havia conflitos étnicos tremendos e uma série de crises de ordem imperial. O Oriente Médio de hoje tem uma situação parecida. Temos o potencial de conflito étnico -já óbvio em Israel-Palestina e no Iraque- e uma crise da ordem imperial, em que os EUA estão perdendo o controle sobre a região. Em minha opinião, o risco de um conflito global tem sido menosprezado.”


Muito tempo foi desperdiçado com o governo Bush. O poder de iniciativa foi perdido. Bush não soube usar sua influência como presidente dos EUA no Oriente Médio. Mas os EUA não são os únicos responsáveis. Todos os membro permanentes do Conselho de Segurança da ONU [EUA, Reino Unido, França, Rússia e China] têm o dever de estabilizar a situação em Gaza e no Iraque. Mas não há sinais de que a China, muito menos a Rússia, vejam a necessidade disso.”


A coisa mais importante agora é o engajamento com o Irã. Se o próximo presidente [dos EUA] for sensato ele fará o que fez Nixon quando foi à China. Precisamos de um presidente que vá a Teerã e comece a engajar essas pessoas. Isolar regimes e aplicar sanções quase nunca funcionou na história da diplomacia.”


A probabilidade de que Bush ordene uma ação militar antes de deixar a Casa Branca é de 50%. Estamos mais próximos do que muita gente se dá conta de um segundo ataque preventivo americano. As conseqüências de uma ação como essa são incalculáveis. Estamos numa época muito perigosa e, por isso, discordo categoricamente de Luttwak. Dar as costas para o Oriente Médio hoje seria como fazê-lo com os Bálcãs no verão de 1914.”


Na mesma FSP há uma entrevista com o ex-consultor de defesa do Departamento de Estado dos EUA e atual assessor sênior do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos em Washington, Edward Luttwark, que pensa haver catastrofismo nas posições de Ferguson, pois o Oriente Médio não tem a importância que já teve. Para usar as palavras usadas por Ferguson para classificar a opinião de Luttwark: uma tolice, Uma tremenda tolice!

Um comentário:

Claudinha disse...

Acredito em uso de armas atômicas inclusive. Penso que EUA e Israel não terão saída. Para manterem a hegemonia na região, será a base da força bruta mesmo.