Aproximadamente 3 milhões de pessoas tomaram parte da 15ª Marcha para Jesus da Igreja Renascer em Cristo, ocorrida ontem em São Paulo. Na ocasião, Estevam Hernandes, que é fundador e “guia espiritual” da Renascer se manifestou num telão diretamente dos Estados Unidos [onde está em prisão domiciliar acusado de contrabando, conspiração e falso testemunho] dizendo que “O Brasil será o maior país evangélico do mundo, porque Deus determinou”.
Para comparação: na Missa do Campo de Marte, que foi o principal e maior evento da Igreja Católica durante a visita do Papa Bento XVI, participaram 800 mil pessoas. Atente-se ao fato de que a Igreja Católica contou com formidável cobertura de toda a mídia nacional e ampla cobertura da Rede Globo, que editorializou a visita do Papa como um acontecimento supremo para a vida terrena.
Em tempos de dispersão cultural e política, de descrença na política, nos políticos e nas instituições, de sublimação da auto-ajuda e do egoísmo como modos de vidas, a demonstração da Marcha para Jesus dá muito o que pensar.
Ignorar tal fenômeno a partir de uma visão reducionista de que a religião é o ópio do povo equivale a comprometer seriamente qualquer projeto transformador do neoliberalismo e do capitalismo.
Alguns dados:
- A campanha das Diretas Já mobilizou 1,5 milhões de pessoas na manifestação em São Paulo e 200 mil pessoas na manifestação
- 100 mil manifestantes acompanharam a votação do impeachment do Collor em frente ao Congresso Nacional em 29 de setembro de 1992.
- A maior manifestação de massas durante o Fora Collor reuniu aproximadamente 800 mil pessoas em São Paulo em setembro de 1992.
- O Brasil é, hoje, o maior país evangélico pentecostal, com 24 milhões de adeptos de igrejas como a Universal do Reino de Deus e Renascer em Cristo. Esta corrente acredita que Deus interfere na vida por meio de milagres.
- A maioria de adeptos dessas igrejas são pessoas simples e humildes que encontraram amparo e “cura” para problemas de alcoolismo, drogadição e prostituição.
Um comentário:
Biruta, um filme não muito popular de 1980 chamado O Grito dos Inocentes traz o seguinte diálogo: a jornalista pergunta para o viúvo (que havia perdido a sua família num acidente de avião para lá de suspeito).
- Você sabe o que domina o mundo hj em dia?
Ele diz que não, coisa assim. Resposta:
- A religião e a mídia.
Fiquei chocada com este pequeno diálogo, metido numa trama que passava ao largo do assunto.
E, considerando os números que publicaste, penso que a coisa é mais grave, quando a religião se funde à mídia. Será que os pastores evangélicos apenas desejam enriquecer às custas das dores de muitos, ou existe um projeto de poder ainda mais cabuloso? Por isso, mais do que prender os falsários, a liberdade de culto e de religião não deve servir de mote para isenções fiscais de governos. Igrejas, sinagogas, templos de umbanda, o que seja, precisa ter controle da esfera pública e pagar impostos. Além de serem fiscalizadas pelos órgãos públicos.
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