segunda-feira, 18 de junho de 2007

A chanchada no Senado e o calvário do Brasil

Dias atrás, no comentário Lula e o calvário do Renan Calheiros foi enfocada a hipotética contabilidade política do Presidente Lula em relação às agruras do Presidente do Senado.

De lá para cá aconteceram fatos patéticos, como [1] o telefonema da esposa do EpitáCio [não será EpitáFio ??] Cafeteira em plena sessão da Comissão de Ética pedindo que ficasse no cargo de relator do processo de absolvição do Renan, o [2] afastamento do mesmo EpitáCio [não será EpitáFio ??] do cargo por dez dias devido a problemas de saúde e [3] o bate-boca do advogado da mãe da filha de Renan com Senadores e a claque da Comissão de Ética.

Sem esquecer da correria do Renan para ajuntar às pressas nova papelada à sua defesa - de notas fiscais frias a folhas de cheques repetidas e outras engendrações próprias de falcatruas desse gênero.

Ah, e o monumental arreglo para salvá-lo ainda está de pé, em que pese algumas defecções, tanto na base do governo quanto na oposição.

Assistimos, nesses dias, a fatos vexatórios que envergonham o país, diminuem a autoridade e credibilidade das instituições de governo e de Estado e expõem a dimensão mesquinha que adquiriu a política nacional.

Fossem outros tempos e provavelmente os que hoje são ferrenhos socorristas do Renan – PeTistas à frente – estariam clamando por ética e defendendo uma investigação lisa e séria.

Fossem tempos em que não houvesse tamanha promiscuidade com empreiteiras e com o submundo dos negócios, a grita seria generalizada pela cassação do Renan.

Fossem outros os tempos e o Brasil estivesse como hoje, carcumido pela corrupção em todos os níveis e em todos os Poderes da República e teríamos em marcha no país campanhas cívicas do tipo “Brasil de mãos limpas” com a mesma significação que foram as campanhas das Diretas Já e Fora Collor.

Mas os tempos são definitivamente outros. Esses são tempos de outra política e de outra lógica, que para entender o Brasil o melhor seja mirá-lo de cabeça para baixo, porque a política está de ponta cabeça. Ou talvez esteja no lugar que a classe dominante sempre deixou, com a diferença que agora todos fazem parte desse baile, sendo que hoje os/as personagens dançam essa valsa com uma desenvoltura de deixar enrubescidos os mais pudicos e “antiquados”.

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A propósito de chanchadas, chuvas, cavalos, epitáFios e bailes, fica apensada a coluna de Carlos Heitor Cony, publicada na FSP de hoje:

CARLOS HEITOR CONY

Como tirar um cavalo da chuva

Ingredientes: um cavalo; uma chuva.

Modo de preparar: pega-se um cavalo que esteja na chuva e, usando de persuasão ou de força, obriga-se o animal a se dirigir a um lugar seco, onde deverá ficar até que a chuva passe.

Modo de usar: são inúmeras as vantagens de tirar um cavalo da chuva, qualquer cavalo, da chuva, de qualquer chuva. Chuva e cavalo podem se misturar, mas há que tomar cuidado para não prejudicar a natureza dos ingredientes, ficando o cavalo molhado demais e a chuva, que deveria fecundar o solo fazendo nascer o trigo e as flores do campo, ficar molhando inutilmente o cavalo, que não produz flores nem trigo.

Outro mérito de tirar o cavalo da chuva, sobretudo para quem não dispõe de um cavalo, mas está sujeito a chuvas e trovoadas, é fazer o que deve ser feito, ou seja, tirar o cavalo da chuva e, se possível, tirar-se a si mesmo da chuva.

Sabe-se que quem está na chuva é para ser molhado. Recomenda-se tirar o cavalo da chuva em ocasiões especiais, como votações no Congresso, prorrogações de medidas provisórias, reescalonamento de dívidas públicas, cargos e funções.

É preferível tirar o cavalo da chuva, mantendo-o enxuto, do que enxugá-lo depois de molhado. Em caso de dúvida, para saber se o cavalo está molhado ou não, aconselha-se um relatório do senador Epitácio Cafeteira.

Mas convém não exagerar e, a pretexto de enxugar o cavalo molhado pela chuva, enxugar os orçamentos da saúde, da educação, dos transportes, da segurança.

Como servir: com o cavalo tirado da chuva, pode-se fazer muita coisa ou nada fazer. Em ocasiões mais críticas, o melhor é montá-lo e partir indignado em todas as direções. (Esta crônica é dedicada a todos os cavalos que estão na chuva).

2 comentários:

Claudinha disse...

Tem gente muito quieta. Por exemplo, o FHC anda mudinho da silva. O trabalho da Polícia Federal deixou a turma apavorada. Li, na página do Yahoo, que os políticos, advogados e empresários estão com medo de usarem celulares e se "protegem" usando outras estratégias de comunicação. Sou da opinião de quem não deve, não teme. O que significa que tem muita gente com rabo preso, por isso o silêncio. Isso é uma coisa. A outra, e cada vez mais me convenço disso, é de que a ditadura deixou esta herança maldita de uma elite que agiu impune e os governos democráticos não souberam, não conseguiram ou não quiseram mexer nessa estrutura podre. E o que acontece? As coisas estão ruindo no Brasil, num momento difícil para a humanidade, o que torna muito mais difícil a mobilização política. Acho que estamos acometidos de um cansaço anterior à ação, ou, quem sabe, estamos sentindo aquele pavor que paralisa a vítima frente a sua presa - e termina sendo comido por ela.

Claudinha disse...

Errata: paralisação da vítima frente ao seu algoz.