segunda-feira, 11 de junho de 2007

Frei Betto fala sobre corrupção, PT e política

Na entrevista de 2ª na Folha de São Paulo, Frei Betto emite opiniões sobre combate à corrupção, o PT e outras questões da política e do Brasil.
BiruTaDoSuL destaca os seguintes trechos da entrevista, que assinantes UOL ou da FSP lêem na íntegra através desse linque:

FOLHA - Isso é suficiente?[o aperfeiçoamento da PF e a integração daquela com o MP]

FREI BETTO - Se amanhã vem outro governo e faz refluir essa ação da PF, esse governo ficará sob suspeita da opinião pública.

Há uma nova cultura sendo criada, de que não há intocáveis na sociedade brasileira. Não importa qual o nível social do criminoso. É claro, precisamos ter critérios, não podemos cair em uma caça às bruxas, isso seria extremamente perigoso. Por isso é importante não ideologizar nem partidarizar a atuação de qualquer polícia.

A PF está se qualificando muito do ponto de vista tecnológico e do preparo dos agentes. Eles estão ficando com a cara do FBI [escritório de investigação dos EUA]. A PF está virando uma referência mundial.


FOLHA - Pessoas próximas ao presidente se envolveram em dossiês contra adversários e, agora, um amigo é acusado de ser dono de bingo. O irmão do presidente é acusado de de ser lobista. O sr. conhece Lula faz tempo. Era possível imaginar que isso aconteceria?

FREI BETTO - Foi uma grande surpresa. Quanto ao Vavá, acho que é inocente. Ele tem bom coração, para ele todo mundo é bom, às vezes é ingênuo até demais. Quanto aos outros, foi surpresa, mas devo dizer que nunca fui próximo a essa turma. Não quero fazer prejulgamento, vamos esperar. Continuo aguardando que o PT cumpra a promessa de investigar e, se preciso, punir os envolvidos em todos os escândalos. Mas, até agora, não aconteceu nada.


FOLHA - Qual a principal característica desse governo?

FREI BETTO - O governo Lula fez uma grande reforma na pintura e na disposição da casa, mas não mexeu na estrutura da casa. A palavra mais forte do discurso de posse do primeiro mandato foi mudança. E as mudanças não ocorreram. Há iniciativas positivas na área social, no combate à corrupção, a Marina Silva no meio ambiente. Agora, vindo o outro governo, infelizmente a estrutura da casa permanecerá a mesma.

Nada garante que essas iniciativas passem a ser políticas de Estado. Hoje, elas são políticas de governo. Não tem reforma agrária, não tem reforma previdenciária que realmente onere os mais ricos.


FOLHA - O sr. se sente frustrado pelo tempo que passou no governo?

FREI BETTO - A vida inteira, não fiz outra coisa que não querer mudar. Já não creio que vou participar da colheita, mas faço questão de morrer semente.

Houve um tempo em que achei que meu tempo pessoal se confundiria com o tempo histórico.

Não vou dizer que as coisas andaram para trás. Têm melhorado. Depende também de toda uma conjuntura mundial.

Há maior insatisfação com esse processo de "globocolonização". A questão do ambiente criou um nó porque atinge indistintamente todas as classes sociais e todos os países.

Quem sabe o meio ambiente, para surpresa da velha esquerda, não será uma ferramenta de mudanças radicais no planeta?

O grande problema no Brasil é que a nossa democracia é meramente virtual, porque a sociedade fica vendo de baixo a ilha da fantasia sem ter mecanismos de interação com ela.


FOLHA - E o que aconteceu com o programa do PT? O Lula se "emancipou" do PT?

FREI BETTO - O PT virou sujeito oculto ou correia de transmissão, quando deveria ser justamente a voz da sociedade junto ao governo, é papel do partido, e não ser a voz do governo junto à sociedade. O lulismo superou o petismo.

Um comentário:

Claudinha disse...

A angústia do Frei Betto é semelhante a minha e a do Eugênio e, acredito, de muita gente que lutou para ver o PT na presidência: o tempo histórico é diferente do tempo da nossa vida. Com a diferença de que não sei se conseguimos ser semente. Aqui no RS, não. É muito triste perder eleições para imposturas e não ter certeza de que os gaúchos e as gaúchas tenham entendido isso.