Mangabeira Unger é o pensador - como gosta de se auto-definir - que em 2006 fez côro ao espírito golpista da direita escrevendo o artigo “Pôr fim ao governo Lula” [sic], no qual afirmou que “o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional” e que Lula seria “avesso ao estudo e ao trabalho”.
Hoje, porém, Mangabeira diz que aceita o convite de Lula para participar “dessa obra de transformação”. Ele deve ser referir, presumivelmente, ao governo Lula, que só será considerada uma “obra” de “transformação” a partir de agora, quando ele passará a integrar o mesmo governo que já foi, na própria opinião, “o mais corrupto de nossa história nacional”, capitaneado por aquele que é “avesso ao estudo e ao trabalho”.
A presença do filósofo na condução dos assuntos estratégicos e de longo prazo da República seria hilária [na parte que toca a ele] não fosse trágica - porque afetará a todos nós, os tementes da Planície. Em entrevista à Folha de hoje, revela-se admirador do “talento analítico de Daniel Dantas”, aposta no potencial da auto-ajuda da “classe média emergente” e revela a presunção de que desempenhará um papel messiânico na política brasileira.
A função de Messias
Definindo a si próprio como “pensador e cidadão” [nessa ordem], o filósofo profetiza que “temos de dar instrumentos à energia dispersa e frustrada do país” ..., “que transforme em flexibilidade preparada o espontaneísmo inculto do nosso povo”. Tóing!
O filósofo também divaga que “se nós olharmos embaixo, para essa classe média emergente, temos uma nova forma associativa e de auto-ajuda no Brasil, que o país não vê”. Só o olhar profundo do filósofo consegue enxergar “embaixo” uma “classe média emergente” altruísta e solidária e não o imenso e real pobrerio do país.
O oráculo da política
O filósofo, que fez parte em 2005/2006 da pior onda golpista desencadeada pelo udenismo que serviu para ao menos demonstrar a higidez institucional do país, defende a diminuição da “dependência das mudanças em relação às crises”, e ensina que “conseguiremos isso por meio de uma democracia de alta energia, mudancista”. Tóing! Tóing!
Tal democracia “de alta energia, mudancista”, contudo, não contempla plebiscitos e referendos. Sentencia o filósofo: “É um erro confundir democracia mais participativa com democracia plebiscitária. O plebiscito isoladamente e uma grande democratização da informação e da participação nos processos decisórios sempre trazem o risco do cesarismo.”. Democracia sim, do tipo que permite que se case com quem quiser, desde que seja com ... Maria ...
Um emissário do Norte
O espírito de doação do filósofo, que renunciará ao salário mensal de quase cinqüenta mil reais por mês [afora polpudas consultorias, como as que prestou ao Daniel Dantas] ganhos na Universidade de Harward, fica ainda mais evidenciado quando se sabe que aqui se tornará um “herói” [como Lula chama seus abnegados Ministros] que receberá somente oito mil reais por mês.
Mas ele virá, trazendo consigo o propósito de consertar o Brasil e conferir ao país um sentido de futuro, apesar de considerar que “as instituições políticas, econômicas e educacionais do Brasil são de uma rigidez mortífera.”.
Os colegas dele, segundo o próprio, estão exultantes com a empreitada que assumirá no país-laboratório chamado Brasil. O filósofo diz que “estão todos querendo que aconteça alguma coisa, querem uma alternativa.”. Decerto agora as coisas vão ...
Harward, a Universidade onde o filósofo ensina, é o centro moral e teórico dos badboys do neoliberalismo mundial. O candidato tucano-pefelista Alckmin, aliás, passa uma temporada de estudos por lá.
Por todas essas, e apesar de todas essas, é necessário continuar acreditando que “a vida é bela”, como disse Trótski em seu testamento político, e “que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente.”. Infelizmente a realidade, nem tão bela, insiste em revelar a tragédia do pragmatismo e do cretinismo.
2 comentários:
Mangabeira Unger, ou Grunhidos do Mangabeira, já previra, ou prevenira, ao menos o próprio futuro de curto prazo, quando no final de 2006 participou de programas de propaganda eleitoral do Lula.
De certo já leste, mas vale aos que ainda não e mesmo reler:
http://z001.ig.com.br/ig/61/51/937843/blig/blogdomino/2007_04.html#post_18835814
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