segunda-feira, 7 de maio de 2007

Confúncio no Planalto

Preparem-se todos para a viagem rumo ao idílio: em muito breve o filósofo Roberto Mangabeira Unger, o Confúncio americano-brasileiro, desembarcará no Planalto para ser Ministro da Secretaria de Ação de Longo Prazo.

Mangabeira Unger é o pensador - como gosta de se auto-definir - que em 2006 fez côro ao espírito golpista da direita escrevendo o artigo “Pôr fim ao governo Lula” [sic], no qual afirmou que “o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional” e que Lula seria “avesso ao estudo e ao trabalho”.

Hoje, porém, Mangabeira diz que aceita o convite de Lula para participar “dessa obra de transformação”. Ele deve ser referir, presumivelmente, ao governo Lula, que só será considerada uma “obra” de “transformação” a partir de agora, quando ele passará a integrar o mesmo governo que já foi, na própria opinião, “o mais corrupto de nossa história nacional”, capitaneado por aquele que é “avesso ao estudo e ao trabalho”.

A presença do filósofo na condução dos assuntos estratégicos e de longo prazo da República seria hilária [na parte que toca a ele] não fosse trágica - porque afetará a todos nós, os tementes da Planície. Em entrevista à Folha de hoje, revela-se admirador do “talento analítico de Daniel Dantas”, aposta no potencial da auto-ajuda da “classe média emergente” e revela a presunção de que desempenhará um papel messiânico na política brasileira.

A função de Messias
Definindo a si próprio como “pensador e cidadão” [nessa ordem], o filósofo profetiza que “temos de dar instrumentos à energia dispersa e frustrada do país” ..., “que transforme em flexibilidade preparada o espontaneísmo inculto do nosso povo”. Tóing!

O filósofo também divaga que “se nós olharmos embaixo, para essa classe média emergente, temos uma nova forma associativa e de auto-ajuda no Brasil, que o país não vê”. Só o olhar profundo do filósofo consegue enxergar “embaixo” uma “classe média emergente” altruísta e solidária e não o imenso e real pobrerio do país.

O oráculo da política
O filósofo, que fez parte em 2005/2006 da pior onda golpista desencadeada pelo udenismo que serviu para ao menos demonstrar a higidez institucional do país, defende a diminuição da “dependência das mudanças em relação às crises”, e ensina que “conseguiremos isso por meio de uma democracia de alta energia, mudancista”. Tóing! Tóing!

Tal democracia “de alta energia, mudancista”, contudo, não contempla plebiscitos e referendos. Sentencia o filósofo: “É um erro confundir democracia mais participativa com democracia plebiscitária. O plebiscito isoladamente e uma grande democratização da informação e da participação nos processos decisórios sempre trazem o risco do cesarismo.”. Democracia sim, do tipo que permite que se case com quem quiser, desde que seja com ... Maria ...

Um emissário do Norte
O espírito de doação do filósofo, que renunciará ao salário mensal de quase cinqüenta mil reais por mês [afora polpudas consultorias, como as que prestou ao Daniel Dantas] ganhos na Universidade de Harward, fica ainda mais evidenciado quando se sabe que aqui se tornará um “herói” [como Lula chama seus abnegados Ministros] que receberá somente oito mil reais por mês.

Mas ele virá, trazendo consigo o propósito de consertar o Brasil e conferir ao país um sentido de futuro, apesar de considerar que “as instituições políticas, econômicas e educacionais do Brasil são de uma rigidez mortífera.”.

Os colegas dele, segundo o próprio, estão exultantes com a empreitada que assumirá no país-laboratório chamado Brasil. O filósofo diz que “estão todos querendo que aconteça alguma coisa, querem uma alternativa.”. Decerto agora as coisas vão ...

Harward, a Universidade onde o filósofo ensina, é o centro moral e teórico dos badboys do neoliberalismo mundial. O candidato tucano-pefelista Alckmin, aliás, passa uma temporada de estudos por lá.

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Por todas essas, e apesar de todas essas, é necessário continuar acreditando que “a vida é bela”, como disse Trótski em seu testamento político, e “que as gerações futuras a limpem de todo o mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente.”. Infelizmente a realidade, nem tão bela, insiste em revelar a tragédia do pragmatismo e do cretinismo.

2 comentários:

Jean Scharlau disse...

Mangabeira Unger, ou Grunhidos do Mangabeira, já previra, ou prevenira, ao menos o próprio futuro de curto prazo, quando no final de 2006 participou de programas de propaganda eleitoral do Lula.

Jean Scharlau disse...

De certo já leste, mas vale aos que ainda não e mesmo reler:
http://z001.ig.com.br/ig/61/51/937843/blig/blogdomino/2007_04.html#post_18835814