A eleição em todo o país se encaminha para seu momento decisivo. No Rio Grande do Sul a etapa final ganha contornos dramáticos, com três candidaturas chegando emparelhadas e com chances de irem ao segundo turno: Olívio Dutra pelo PT, Germano Rigotto pelo PMDB e Yeda Crusius pelo PSDB.
As últimas pesquisas divulgadas – uma feita pelo Instituto Methodus e publicada na revista Voto e outra realizada pelo Correio do Povo -, lançam novas e discutíveis possibilidades de resultado eleitoral.
De acordo com os dois levantamentos, Rigotto e Yeda se credenciariam para o segundo turno, deixando Olívio fora da disputa. Este cenário, contudo, é decorrência de erros metodológicos das pesquisas, e não expressam a dinâmica eleitoral concreta.
A pesquisa Methodus-Voto, por exemplo, apresenta dois erros grosseiros na amostra investigada, superestimando o contingente de pessoas com média e alta escolaridade e subestimando o universo de pessoas de escolaridade restrita ao nível fundamental.
Apesar de haver aparente regularidade nos demais quesitos da investigação [gênero, faixa etária e classes de renda], a deturpação da amostragem relativamente ao item escolaridade produz uma discrepância grande – e extremamente artificial - em favor de Yeda.
Já a pesquisa do Correio do Povo não disponibilizou no TRE o conjunto de dados devidos, e apresentou os desempenhos dos candidatos empatados no limite das margens de erro. Entretanto, mesmo assim sua divulgação é acompanhada de uma interpretação jornalística orientando para o segundo turno entre Yeda e Rigotto.
No limite da prudência e responsabilidade, a manchete do jornal no máximo poderia referir o “acavalamento” das três candidaturas na reta final. Mas prevaleceu o propagandismo e a parcialidade, e então o Correio do Povo proclamou o resultado sonhado pelo conservadorismo gaúcho, de uma disputa em segundo turno que se realizaria exclusivamente no interior do seu próprio campo ideológico.
É óbvio que as pesquisas divulgadas não substituem o voto soberano do povo. Mas a apresentação de múltiplas pesquisas com sentidos semelhantes pode provocar o efeito desejado, de induzir fortemente a opção do eleitorado, fraudar a vontade popular e, especialmente, abater o ânimo da militância identificada com Olívio.
Nunca é demais lembrar que no dia 1º de outubro de
O comportamento do Correio do Povo nesta eleição não só em relação às pesquisas, como também devido à cobertura tendenciosa e desfavorável ao PT, é o que marca a diferença no processo eleitoral no Rio Grande do Sul neste ano. A opção do “velho” Correio, de se aproximar da linha editorial do seu concorrente Zero Hora, retira o pouco de equilíbrio jornalístico que poderia haver nesta eleição.
Apesar do sonho dourado do campo conservador gaúcho de excluir Olívio do segundo turno, a historiografia político-eleitoral do Rio Grande não autoriza concluir que a disputa venha a se circunscrever a um único campo do espectro ideológico. A tradição do debate polarizado, da disputa acirrada, do Gre-Nal político falará outra vez mais alto e reproduzirá novamente o cenário de enfrentamento entre a esquerda e a direita no Estado.
Olívio e o PT contam com uma forte estrutura partidária e vêm sobrevivendo a todas as vicissitudes da política nacional. A cada dia a campanha de Olívio ganha empolgação e vigor na afirmação enquanto alternativa democrática e popular ao tsunami causado ao Rio Grande pelo PMDB de Rigotto, juntamente com o PSDB de Yeda.
As pesquisas – e mais que isso, o sentido de manipulação que contém -, foram como um sopro contínuo no braseiro da candidatura de Olívio, e vêm incendiando o ânimo da militância da Frente Popular, já calejada com as conhecidas manobras do passado.
A direita gaúcha, apesar de estar mais apoiada do que nunca numa cobertura escandalosamente tendenciosa da mídia, passa a enfrentar o dilema de devorar-se entre si. A esgrima real se dá entre Rigotto e Yeda para ver quem vai ao segundo turno para disputar o comando do Estado com Olívio.
Rigotto desde o início lidera as pesquisas, porém em bases estacionárias e limitadas. Denota enorme dificuldade de crescimento e limites para a expansão da sua candidatura. Além disso, seu governo pálido e destituído de grandes marcas não ajuda a animar o eleitorado em direção ao futuro.
Yeda, apesar da frágil maquiagem de “nova”, dos desgastes de uma gestão incompetente da campanha que desmente o bordão do “novo jeito de governar” e da manifestação racista e preconceituosa num debate, parece ser a melhor beneficiária do crescimento momentâneo de Alckmin no Estado.
Seja como for, Olívio praticamente tem assegurado seu lugar no segundo turno. E torce para que a disputa ao interior da direita gaúcha seja encarniçada a ponto de incompatibilizar a base social de um apoiar o outro no segundo turno.
A vitória de Olívio não significará somente a vitória do PT e da Frente Popular no Rio Grande, mas o revigoramento do percurso da esquerda no país.
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