domingo, 10 de dezembro de 2006

Um facínora que se vai

O ditador golpista Augusto Pinochet morreu com o privilégio de não ter nenhum ajuste de contas com a justiça chilena. Com a morte do sanguinário ditador, se foi um dos piores facínoras latino-americanos ainda remanescentes. Ele se foi, contudo, sem pagar um segundo da sua vida com uma condenação merecida, devida, porém nunca recebida.

Mas se não foi julgado e condenado, pelo menos a morte do ditador não significa o esquecimento ou o indulto eterno pela barbárie praticada. Perdoar ou indultar o facínora [e todos repressores da sua laia que agiram nos países do nosso continente] é tão criminoso quanto o crime bárbaro que foi cometido por ele [e os da sua laia] contra seu próprio povo.

A presidenta chilena Michele Bachelet, cujo pai foi morto pela repressão de Pinochet, não concederá ao ditador honras de Estado na cerimônia de sepultamento. A declaração do governo brasileiro, de outra parte, é elogiável por relembrar o pesadelo histórico do período da ditadura chilena, e também por não reconhecer Pinochet como alguém que mereça manifestação solene de parte do Estado brasileiro.

Com o avanço das esquerdas no continente latino-americano, cresce a consciência histórica de que é fundamental o julgamento dos crimes da repressão do passado para um futuro de reconciliação. Oxalá seja o destino desejado por Salvador Allende em seu último pronunciamento feito na Rádio Magallanes instantes antes de sua morte no 11 de setembro de 1973:

Trabajadores de mi patria: Tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición, pretende imponerse. Sigan ustedes, sabiendo, que mucho más temprano que tarde, de nuevo, abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre, para construir una sociedad mejor.

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