terça-feira, 17 de julho de 2007

Lula e a sucessão

Jeferson Miola
As vaias compradas pelo reacionarismo carioca a preços substanciais – chegavam a valer R$ 200 para entrar no Maracanã – não atingem a popularidade de Lula que, segundo reiteradas pesquisas, segue forte como rochedo. Vaias compradas sequer medem popularidade, até porque no Rio Lula sempre ganhou do reacionarismo por goleada: nunca fez menos de 60% dos votos contra cerca de 30-40% dos tucanos e pefelentos [agora “os Demos”].

O que demonstra que o maior erro do estafe de Lula tenha sido o de desprezar este fato e induzi-lo a não fazer o pronunciamento de abertura oficial do Pan. Um erro que amplificou e superdimensionou o valor das vaias – compradas.

Bem, mas independente disso, as movimentações com vistas à sucessão do Lula prosseguem, tendo o próprio na testa da mesa de jogo. O projeto do Lula consiste no seguinte: fazer seu sucessor em 2010 – não necessariamente alguém do PT – que governaria por cinco anos sem direito à reeleição, o que viria como parte de um pacote político a ser aprovado no Congresso. E então Lula retornaria em 2015 para novo mandato até 2020. Se concluir o atual mandato nas condições de popularidade e identidade popular que ostenta hoje, se elegeria independentemente do desempenho do seu sucessor e teria um retorno épico ao estilo Getúlio Vargas e Juan Perón.

Ciro Gomes, que se mantém prudentemente reservado do ti-ti-ti político, sai da toca para os primeiros ensaios sobre a sucessão de Lula. Com consciência sobre o principal da disputa no Brasil, que é o aprofundamento da derrota do bloco reacionário tucano-pefelento [agora “os Demos”] e a interdição do projeto deles de retorno à Presidência da República, Ciro considera necessário “cimentar um projeto para o dia seguinte da saída do governo Lula”. Dizendo que “não aceita ser vetado” como eventual candidato presidencial da coalizão que sustenta o governo Lula, Ciro recomenda aos partidos da base de apoio “juízo político” nas escolhas que serão feitas. [Ler entrevista de Ciro ao Estadão]

Endossando as declarações de Ciro Gomes, o Ministro Luiz Dulci reconhece a naturalidade da postulação do Ciro e recusa a hipótese de veto: “Certamente não haverá veto, pelo contrário. Não é hora ainda de a coalizão escolher seu candidato. No momento oportuno, o nome de Ciro Gomes será considerado, com muito respeito e atenção, pela importância da liderança dele”. No melhor figurino mineiro, Dulci não perde a ocasião e elogia Ciro, dizendo que ele “é uma pessoa muito querida em todos os partidos da coalizão, inclusive dentro do PT”.

O certo é que Lula desde a vitória eleitoral do ano passado vem arquitetando a continuidade do projeto que inaugurou em 2003, situado acima e à parte do PT e da esquerda brasileira e que tem como centro de gravidade a imposição de uma derrota estratégica ao reacionarismo tucano-pefelento [agora “os Demos”].

Isso não é pouco, mas também não devia ser tudo. E tampouco é a única forma de se chegar aos mesmos fins. Mas em nome disso a esquerda – principalmente o PT - vem pagando um preço elevadíssimo, que poderá lhe custar uma derrota histórica e geracional – o que é outro papo proutra conversa.

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