segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Equador: política latino-americana num país dolarizado

Jeferson Miola, integrante do IDEA – Instituto de debates, estudos e alternativas de Porto Alegre - jmiola@uol.com.br


Rafael Correa, que integrou a frente de esquerda na disputa à eleição presidencial do Equador, derrotou o direitista Álvaro Noboa, o empresário mais rico do país que foi apoiado pelo governo norte-americano nas eleições.

O Equador é um país marcado pelo conflito político que é intrínseco aos países que adotaram o [des]ajuste neoliberal. Em apenas 6 anos, três presidentes neoliberais do Equador foram pacificamente depostos ou tiveram seus mandatos encurtados após levantes populares. A deposição de governantes neoliberais se tornou um fato corriqueiro na América Latina desde os anos 1990, em que os adeptos do Consenso de Washington não só foram derrotados, como também implicados em processos penais ou fugidos dos próprios países – Salinas do México, Fujimori do Peru, Pérez da Venezuela, Menem da Argentina.

No Equador, o último a ser deposto foi o então “nacionalista” Lúcio Gutierrez, um coronel do exército que foi eleito presidente com o apoio da esquerda política e social e das populações indígenas, que representam praticamente a metade da população do país. Logo no início do mandato, Gutierrez iniciou a aplicação de medidas anti-populares e anti-nacionais, culminando com a adoção do dólar como moeda oficial do país e a realização de acordo bilateral de livre comércio com os EUA. Da empolgação militante à desesperança foi um passo, e o Equador se tornou mais um exemplo do fracasso das experiências neoliberais do continente. Por isso, abrigou o primeiro Fórum Social das Américas, em julho de 2004, realizado na capital Quito.

A eleição de Rafael Correa, da Aliança País, envereda o Equador para o caminho da soberania e da auto-determinação. É a retomada de uma hipótese de desenvolvimento com sustentabilidade a partir das vocações próprias do país, que possui riquezas de subsolo [principalmente petróleo], forte inclinação agrícola, rica produção cultural, costa litorânea no oceano pacífico, integração amazônica e forte potencial turístico.

Rafael Correa antecipou alguns nomes que constituirão o governo central, e dentre eles há de se destacar a presença de Alberto Acosta [crítico da dolarização], Gustavo Larrea [dirigente de esquerda], Ricardo Patino [crítico do pagamento da dívida], Carlos Pareja Yanuzzelli [revisor de contrato lesivo firmado com empresa norte-americana, que acarretou a suspensão do tratado de livre comércio com os EUA]. É de se esperar a divulgação de outras representações que integrarão o governo de Correa, como do Pachakuchi [partido indígena de esquerda].

No país da economia dolarizada, a política pendeu para os ventos esquerdizantes que sopram em toda a América Latina, o que é mais um assombro para George W. Bush Júnior – o Mister Danger, como costuma se referir a ele o presidente Hugo Chávez. No último ano e meio, Bush amargou a derrota eleitoral de seus aliados na Bolívia, na Nicarágua, no Brasil e no Equador. Só não perdeu no México mediante uma escandalosa fraude contra López Obrador, o que cria um ambiente de instabilidade e de sério conflito.

No próximo final de semana, o calendário eleitoral de 2006 no continente se encerrará com a vitória de Hugo Chávez para o exercício de um novo mandato na Venezuela, dando mais um passo decisivo dos povos latino-americanos para a continuidade da erosão do império e do imperialismo.

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