Jeferson Miola
O cenário eleitoral de Porto Alegre parece estar em franca alteração. O que meses atrás pareceria estapafúrdio em análises de cenário eleitoral - como a ausência do PT no segundo turno -, poderá ser uma possibilidade realista, se persistirem as tendências e indicações vigentes.Seria a primeira vez em 20 anos, desde 1988, quando o PT conquistou Porto Alegre com Olívio Dutra, que o PT ficaria fora da polarização real na cidade que mais originalmente vincou a natureza moderna, democrática e popular das administrações do PT. E que lhe deram evidência nacional e internacional, e lhe premiaram como sede do Fórum Social Mundial e do emergente movimento internacional contra o neoliberalismo.
A posição de potencial favoritismo de Maria do Rosário, perceptível até maio-junho, hoje é contrastada com um sentimento perturbador de estabilização desfavorável da candidatura. Dois aspectos confirmam as evidências preocupantes. Um, que a hipótese de re-eleição, para Fogaça, nunca foi antes tão crível quanto o é agora, favorecido por uma dinâmica eleitoral geral que é despolitizadora e de um “afirmativismo” asséptico. E [2], num contexto de fetichização da política, a Manuela não só parece ser a maior beneficiária, como política e eleitoralmente tem sido poupada das contradições de ter-se vinculado ao que de pior já ocorreu na política gaúcha após o fim da ditadura militar: o brittismo de cepa pura.
Me interrogo, diante desta situação, se em lugar da idéia duma política de “cenário clean em fundo azul celeste” não seria apropriado o antagonismo fundado na crítica, nas contradições dos adversários e na confrontação de projetos – passados e futuros? Não pareceria razoável a candidatura Maria do Rosário - pela tradição de 16 anos de governos do PT na cidade – criar agenda eleitoral e ter a ambição de polarizar o debate sucessório? Seria presunçoso o PT reivindicar a autoria de conquistas fundamentais como o Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial e ser ele, o próprio PT através de Maria do Rosário, a anunciar em voz alta e altiva que pode sim retomar tais conquistas, ao invés de outras candidaturas se apropriarem, distorcerem e anunciarem ao povo de Porto Alegre?
É certo que os dirigentes da candidatura Maria do Rosário e a direção do PT em Porto Alegre, com a responsabilidade que conquistaram, devem fazer uma apreciação apurada e rigorosa quanto aos destinos da campanha. [E, tomara, seja tal apreciação de convicção e amparo na realidade oposta às percepções preocupadas aqui alinhavadas]. É de se confiar, também, que corrigirão os rumos que devem ser corrigidos e em tempo adequado para a reversão de tendências aparentemente desfavoráveis.
Seria o pior dos mundos para o PT e para a esquerda brasileira uma hipótese de ausência no segundo turno eleitoral nesta que foi a capital mundial dos sonhos de esquerda.
2 comentários:
Esses dias encontrei um antigo amigo, PTista histórico, que estava fora e retornou a passeio a Porto Alegre. Ele me contou que decidiu olhar a propaganda eleitoral na TV e ficou mais bem impressionado com a Vera Guasso e com o Ônix.
meu caro amigo jefferson que decepcão em ver comentário tão mesquinho e equivocado em teu blog.deverias celebrar a possibilidade de superacão de uma esquerda arcaica,dogmática e sem perspectiva de renovacão por uma alternativa fiel aos seus principios mas consentânea dos desafios de seu tempo histórico.digo que devias pois acredito,sinceramente, que ajudaste a construir tal visão.abracos
fernando
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