terça-feira, 10 de junho de 2008

Gabinete de Transição: arreglo para evitar impeachment

Jeferson Miola
A idéia da Governadora Yeda Crusius de criar o “Gabinete de Transição” até que se consiga formar um “Gabinete de Governo” de tipo “parlamentarista” com personalidades “acima de qualquer suspeita”, é uma evidência clara de que a situação da Governadora e do governo ficou insustentável.

A Governadora se tornaria então um espectro, enquanto o poder real passará a um condomínio formado pelos principais partidos políticos da direita gaúcha. Este condomínio deverá carregar o espólio dos 30 meses restantes deste que é o governo mais debilitado política e moralmente e sem legitimidade em toda a história gaúcha.

A decisão é também sinal claro de que o conservadorismo gaúcho busca o enquadramento da “sua classe” em torno de um projeto que possa representar a salvação do que resta. Uma coisa é certa: deixar se consumar a queda da Governadora poria muita água no moinho do PT e praticamente asseguraria a vitória eleitoral em 2010 por antecipação. Esse é um divisor de águas que parece ter sensibilizado até mesmo os setores partidários recalcitrantes, que nos últimos dias pendiam entre a posição de ruptura com o governo ou de continuidade crítica na base de apoio.

Da mesma forma que a conjuntura evoluiu aceleradamente e em favor da oposição na semana passada, os últimos dois dias serviram de ponto de partida para a reação dos setores de apoio e sustentação do governo. Nestes dois dias o governo recobrou a capacidade de iniciativa política e de articulação da sua base, mesmo que ao preço da renúncia ampla de poder.

Apesar do rescaldo dos acontecimentos da semana passada, a iniciativa de blindagem da Governadora – um gesto importante de obstrução do caminho do impeachment – altera qualitativamente a conjuntura, desta vez em favor do governo. A governadora ganha, assim, sobrevida na UTI do hospital político.

Mesmo que as condições materiais, documentais e objetivas sejam contundentes para a abertura de processo de responsabilização e impedimento da Governadora, o arreglo do “Gabinete de Transição” é o mais relevante obstáculo a ele transposto. Entretanto, os partidos que tomam parte deste arreglo poderão arcar com elevado custo político. Farão um péssimo inventário ao fim do governo que se arrastará melancolicamente até o fim. Ou então serão tragados politicamente caso a dinâmica política force a abertura do processo de impeachment.

A disputa pela abertura do impeachment não é partidária, porque deve ser uma luta cívica, que deve buscar o alinhamento da intelectualidade, do parlamento, dos movimentos sociais, da OAB, CNBB, Igrejas, ARI, dos Deputados Estaduais e de todos aquelas pessoas que querem recuperar um sentido de decência na política gaúcha. A tarefa primordial é produzir referências objetivas e subjetivas que animem o amplo movimento com tal amplitude e expressão social - única maneira de evitar que a mídia que vem atuando dignamente na repercussão deste episódio, capitule ao arreglo em curso.

2 comentários:

Jayme disse...

BOM DIA, JEF. GOSTARIA DE SABER TUA OPINIÃO SOBRE O FATO DE SE TORNAR PUBLICA UMA GRAVAÇÃO COM INFORMAÇÕES QUE O PUBLICO TEM O DIREITO DE CONHECER. SE TIVESSES UMA GRAVAÇÃO ASSIM, DIVIDIRIAS COM OS OUTROS?

Unknown disse...

Grande Jesso nos colocando em dia com os eventos políticos e desoladores do RGS. Lucas - Tocantins