Jeferson Miola
A conjuntura política gaúcha adquiriu um ritmo impressionante de câmbios e revelações na semana passada. A situação evoluiu dramaticamente, e a crise já não pode ser tratada como uma simples contenda binária do tipo oposição versus situação, porque os episódios revelados colocam toda a sociedade gaúcha diante de uma questão que é, acima de tudo, cívica.Com as descobertas estarrecedoras, instrumentalizar a luta política entre governistas e oposicionistas para interditar as providências exigidas seria não só inaceitável, como perigoso. Iria contra o sentimento da sociedade, que exige o esclarecimento profundo e objetivo do ocorrido. E, ademais, comprometeria o futuro político e econômico do Rio Grande que, convivendo com tamanha obscuridade de escândalos não esclarecidos em profundidade, seria condenado a se arrastar nos próximos 30 meses com um governo desmoralizado e politicamente inviabilizado e deslegitimado, incapaz de conduzir o Estado ao futuro.
Idealmente falando, seria desejável conseguir-se poupar o Rio Grande de um processo traumático de responsabilização da Governadora. Mas infelizmente hoje isso se tornou uma imposição devido aos fatos até então impensáveis na nossa cultura e tradição políticas.
A semana, contudo, que passou foi repleta de situações entristecedoras e lastimáveis para o povo gaúcho, acostumado a escrever sua história de modo quase sempre épico. Foi uma semana em que os silêncios abusivos, as versões falaciosas, os falastrões e as mentiras das pessoas indiciadas no escândalo do Detran caíram por terra. A audição de conversas telefônicas revelou em pormenores quais eram e como agiam as quadrilhas.
Por esses dias ficou evidente a coadjuvação do Secretário-Geral de Governo no mínimo como vetor para transmissão de orientações emanadas pela Governadora. Foi também publicada a carta que Lair Ferst, lobista e chefe de uma das maltas, endereçava à Governadora por intermédio do Chefe da Representação do governo gaúcho em Brasília – o mesmo que foi flagrado auxiliando o lobista traficar interesses junto a órgão público e sobre quem a Governadora disse ter “agido corretamente”.
E, finalmente, foi revelado o conteúdo de audiência mantida entre o Vice-Governador e o Chefe da Casa Civil, onde o segundo confessa com naturalidade o entendimento de que a roubalheira do Detran possa ser entendida como fonte de financiamento de uma das “famílias políticas” que apóiam o governo, assim como desvios na CEEE e no Banrisul possam financiar demais grupos partidários.
A reação da Governadora a tudo isso, após longo e perturbador silêncio, foi desrespeitosa com a sociedade, porém indulgente com os integrantes de sua equipe que estão implicados nos escândalos. Isso tudo faz com que a crise avance gravemente. No outro lado da rua do Piratini, a CPI do Detran vai colecionando base probatória robusta que nos faz indagar se não é chegada a hora da abertura de processo de responsabilização da Governadora.
A consciência cívica e republicana que vai se constituindo em paralelo à comoção da sociedade com as notícias, não tolerará arreglos feitos para acobertar o que quer que seja.
É péssimo para o Rio Grande este lodaçal de corrupção e escândalos que a cada dia ganham novas proporções aterrorizadoras. Pior ainda será a subsistência de dúvidas escabrosas que, protegidas e não investigadas em virtude de arreglos duma maioria parlamentar circunstancialmente a favor da Governadora, obrigue o Rio Grande ao atraso, pois a Governadora Yeda Crusius e seu governo estão irremediavelmente descredenciados e desmoralizados para o diálogo público em direção ao futuro do Estado.
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