Estar em Buenos Aires sempre é algo gracioso e especial. Sempre que estou aqui tenho a sensação de estar na minha própria casa - na bela e doce capital, Porto Alegre. E, assim, tenho ao mesmo tempo a sensação de estar no mundo. Um lugar adorável, cosmopolita e acolhedor - pra não peder a oportunidade de uma piada provocadora mantendo a ótima amizade com los hermanos, diria que o único ruim são os portenhos.
Buenos Aires à parte a noite interminável que-se-parece-dia com seus cafés, livrarias, shows, cinemas, teatros, música, jazz, blues, poprock, dinamismo humano, tem uma diversidade jornalística de causar inveja. São revistas e jornais diários que deixam a gente babando de vontade de ler tudo. Sempre que venho prá cá, compro as revistas Veintiytrés e Debate. E, por recomendação do Flávio, também passei a comprar a direitista Notícia; por aí se sabe as coisas pelo ângulo do ultra-conservadorismo argentino, que tem um peso político e cultural importante por aqui.
De jornais, compro sempre meu predileto Página12, eventualmente o Clarín e sempre o Barcelona, uma espécie de paródia diáraia da mídia, especialmente do conservador Clarín. Tem outros que também os leio, de cujos nomes não me recordo neste instante em que escrevo estas linhas em meio a um breve intervalo de trabalho.
Duas diferenças que se salientam, ademais da qualidade jornalística e editorial de jornais como o Página12: aqui as assinaturas são algo alienígena, porque faz parte da cultura sair-se de casa para comprar-se jornais nas bancas - os kioskos que estão em todas as quadras - e jornal é jornal, não é um encarte publicitário com 80% de seu tamanho tomado por anúncios e propagandas.
Resumo tudo pra destacar, por exemplo, a edição de ontem do Página12, que apresentava matérias completas sobre a crise entre o governo central de Cristina Kirchner e os agro-conservadores, sobre a criação de polêmico índice para medição de inflação, sobre a caída em desgraça do Charly Garcia, sobre um manifesto escrito por mais de 1.500 intelectuais e ativistas em defesa da democracia, e sobre a presença de Alberto Granado na Argentina para a celebração dos 80 anos del Che e outras matérias escritas com densidade e qualidade informativa.
Sempre é bom estar em Buenos Aires porque aqui, ademais de me fazer sentir em casa e no mundo, tenho a sensação de não estar sendo permanentemente enganado pela imprensa. O que se lê num veículo é o que se lê, e não o que está nas entrelinhas.
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