quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

[IN]Dignísima Mídia

Nunca a mídia brasileira ocupou o centro do debate público e da luta política como nas eleições gerais de 2006. Isso não quer dizer que no passado o comportamento da mídia tenha sido menos faccioso e partidário que neste ano. Muito ao contrário. A mídia monopolista e oligárquica brasileira, escorada nos esquemas do poder dominante, sempre esteve por trás dos importantes acontecimentos históricos da política no Brasil criando o “clima” na sociedade em favor das soluções dos poderosos: na campanha udenista que conduziu Getúlio Vargas ao suicídio, na desmoralização implacável de JK, na tentativa de impedir a posse de Jango em 61, no golpe militar de 64, no acobertamento da repressão durante a ditadura, no acordo conservador no Congresso contra as DiretasJá, na manipulação para eleger Collor de Mello em 89, na blindagem do desastre neoliberal tucano-pefelista durante 8 anos, para fixar citações mais emblemáticas.

A diferença, neste ano, é que a mídia “saiu do armário” por inteiro. Atuou como projeto político-partidário com lado definido e objetivo claro de combater a esquerda, os setores progressistas e todos aqueles que representam algum obstáculo aos seus interesses. Substituiu o jornalismo pela publicidade vil contra seus adversários. Criou bordões e clichês que foram convertidos em palavras de ordem do conservadorismo. Subverteu as normas jurídicas do Estado democrático de direito segundo as quais cabe ao acusador o ônus da prova, impondo aos que acusou levianamente o ônus de provar a própria inocência. Militou abertamente na campanha de Alckmin – levando a eleição presidencial para o segundo turno – e de candidatos aos governos estaduais.

A esta extraordinária ousadia e petulância da mídia oligárquica do Brasil, tendo a Rede Globo e suas afilhadas à frente, correspondeu também a mais fantástica derrota já imposta à própria mídia pela opinião pública, pois a imensa maioria pobre do país soube discernir o que estava em jogo.

A revista Carta Capital, ainda durante o processo eleitoral, em três reportagens de Raimundo Pereira desnudou a trama montada pela Rede Globo para derrotar Lula, favorecer Alckmin e impulsionar a aliança conservadora tucano-pefelista em todos os estados do país. A carta de demissão do repórter Rodrigo Viana [clique para ler] da Rede Globo, publicada por esses dias de dezembro, comprova o quão grave foi a atitude editorial da império das comunicações do Brasil.

Também durante as eleições aconteceu uma verdadeira insurgência eletrônica através da internet com listas de discussão, contra-informação, redes de e-mails e principalmente blógues pessoais e de colunistas políticos isentos e honestos.

No âmbito estadual, foi no Paraná que houve o enfrentamento mais consciente e sistemático do papel desempenhado pela imprensa durante as eleições. Após a eleição para o exercício do segundo mandato à frente do governo paranaense, conquistado apesar da férrea campanha em contrário da imprensa local, o Governador Roberto Requião apresentou o balanço A IMPRENSA DO PARANÁ E A ELEIÇÃO [clique para ler o texto na íntegra]. É um documento com informações objetivas a respeito da cobertura da imprensa e da editorialização feita pela mídia paranaense contra o Governador Roberto Requião e a favor do candidato Osmar Dias.

Quem formula esta análise faz parte de um time vencedor, portanto não se trata de “choro de derrotado”, mas antes disso uma advertência acerca da lacuna existente na sociedade brasileira, em que a atuação descontrolada e anti-republicana de certa [IN]Digníssima Mídia pode comprometer a própria democracia no Brasil. É uma contribuição da experiência do Paraná para que a sociedade brasileira possa dar passos decisivos no sentido da democratização, desconcentração e moralização da imprensa no país.

Em uma série de mais quatro notas sobre a [IN]Digníssima Mídia além dessa, Biruta do Sul publicará correspondências de Benedito Pires Trindade, Secretário de Imprensa do Paraná, que documentam a guerra ocorrida naquele Estado da Federação.

Um comentário:

Claudinha disse...

Eu gostaria de trazer o Requião para ministrar oficinas sobre mídia e política para o pessoal do PT, PSB e PCdoB. Tem liderança de esquerda que precisa ler mais do que autores marxistas.