quinta-feira, 15 de novembro de 2007

A derrota da empulhação

Com a reprovação do pacote de medidas opostas a tudo o que prometeu nas eleições para se eleger, a governadora Yeda Crusius amargou uma derrota que não é só política, mas tem o sentido de uma reprovação também moral. Moral no sentido do bom habitus político, da antítese da desfaçatez e da quebra de confiança, da oposição à mentira e à empulhação; e não no sentido de uma moralidade corriqueira, da simples repreensão pudica de atitudes e comportamentos.

Ainda que o principal argumento racional no debate público contra o pacote tenha sido a recusa do aumento puro e simples de impostos como remédio para o enfrentamento a crítica situação das finanças públicas gaúchas, a derrota da governadora tem o valor de um recado de que política é coisa digna e deve ser feita com verdade.

Nas eleições passadas, para se eleger a governadora fez uma campanha falsa e diversionista. Iludiu o povo com o mantra abstrato do tal “novo jeito de governar”, mistificou a realidade a ponto de se comparar com a “Anita Garibaldi do século 21, mentiu mais que o Britto costuma mentir, prometendo facilidades que obviamente não poderia cumprir no governo, e ocultou sua vocação privatista e de destruição do Estado e das políticas sociais. A derrota do governo, portanto, é um eloqüente ensinamento de que alguém até pode se eleger na base da mentira, mas governar a partir de bases falsas é muito difícil.

O resultado de ontem é o epitáfio do “primeiro ano político útil” da governadora. Ano que contabiliza resultados muito semelhantes no início e no fim: derrota legislativa na tentativa de aprovar pacote com medidas que nas eleições jurou não aplicar; coleção de conflitos políticos e institucionais por todos os lados; crise de sustentação do governo com provável demissões no secretariado; e impressionante quebra da capacidade de interlocução política.

O governo Yeda Crusius tem todas as características de que poderá melancolizar. É um governo que a cada iniciativa política não renova, mas se esclerosa; envelhece ainda mais. E se persistir o comportamento crispado e arrogante de seus integrantes – a começar pela própria governadora – em breve tempo o governo economizará nos gastos com compras de café, porque serão escassas as visitas que o Piratini receberá.