quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A Pesquisadora e a Aranha

A Folha de São Paulo do último 17/09/2007 publicou reportagem com o título “45% da cúpula do governo é sindicalizada” [ler ...] dissertando sobre o perfil de sindicalização das pessoas que ocupavam o que o jornal considera “cargos de elite no poder” do governo federal.

A matéria repercute o resultado da pesquisa “Governo Lula: contornos sociais e políticos da elite do poder”, coordenada por Maria Celina D'Araújo, do CPDOC [Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil] da FGV. A pesquisa concluiu, dentro do óbvio mais que ululante, que “os cargos de confiança mais altos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva são ocupados por sindicalizados e filiados ao PT”.

A pesquisadora da FGV não necessitaria realizar tão brilhante pesquisa para concluir que os cargos mais elevados da Administração Federal no governo Lula [consequentemente, os de maior remuneração] não foram preenchidos por gestores e técnicos ligados ao PSDB, aos Demos ou ao conservadorismo neoliberal. Por mais que a pesquisadora e a FSP considerem anti-natural um operário governar o país e profissionais vinculados a tradições populares e sociais ocuparem postos de mando no Estado brasileiro, o povo brasileiro quis contrariá-los nas eleições passadas.

Na reportagem, a prestigiosa pesquisadora que coordenou nada relevante pesquisa realizada com recursos públicos, tece considerações curiosas acerca dos fabulosos “achados científicos”:

- “Você tem ainda uma superposição: parte dos petistas é também sindicalizada. É uma malha associativa muito forte

- “A população brasileira tem em torno de 14% de sindicalizados. Na nossa amostra, a gente tem 45%. É muito diferente da realidade brasileira

- “Nós pegamos os níveis 5 e 6, que são cargos de direção. Acho que, se olhar mais para baixo, a tendência é até ter mais militantes e sindicalizados. A nossa amostra é uma elite que requer especialização técnica

- “O que a gente observa é que a área econômica é a mais profissionalizada. Quando a gente vai ver as áreas onde há maior concentração de pessoas sem experiência, sem currículo anterior e com maior militância é na área de saúde e nas áreas sociais. É muito a cara do Brasil, uma cara que se repete.

- é “preciso olhar com cuidado a possibilidade de movimentos sociais serem controlados pelo Estado. Isso acontece em outros países, Venezuela, Bolívia. Tem sido um recurso bastante usado por governos de recorte popular e pode ter custo para a democracia também, porque você tira autonomia, independência desses movimentos.

A reportagem da Folha de SP ainda complementa com outras pérolas:

- “cerca de 25% tinham filiação partidária: 19,90% eram filiados ao PT, e 5%, a outros partidos. O estudo mostra que a maior parte dos filiados vem do serviço público

- “Os filiados são, em sua maior parte, ‘outsiders’ da esfera pública

- “os indicadores de ‘associativismo’ também impressionam. Um total de 46% declaram ter pertencido a algum movimento social, 31,8% declaram ter pertencido a conselhos gestores e 23,8%, a experiência de gestão local. Apenas 5% pertenceram a associação patronais.

- “nada disso permite conclusões retumbantes, apenas aferir que, de fato, a tese que insiste num forte vínculo sindical, social e partidário está correta

Os resultados da pesquisa permitem chegar-se às seguintes conclusões:

i] uma instituição respeitável como a FGV deveria ser mais criteriosa, em termos científicos, sociais e intelectuais na autorização de pesquisas e no direcionamento de energias, trabalhos e recursos de seus prestigiosos pesquisadores;

ii] a mistura de “ciência encomendada” ou “ciência sob medida” ou “ciência instrumental” com mídia golpista, gobbeliana e partidária, na melhor das hipóteses, é mãe fecunda de totalitarismos;

iii] quando uma mídia sem escrúpulos faz do cientificismo feito de “ciência encomendada” um argumento de convencimento público, ocorre uma perigosa sinergia que visa a justificação de preconceitos para minar a imagem e afetar a representação simbólica de determinados atores sociais no contexto da sociedade e do imaginário social;

iv] a pesquisa e a reportagem que lhe deu publicidade [estranhamente só a FSP] valem menos pelo revelado e mais pelo ocultado, onde processam subliminarmente preconceitos, ódio racial e intolerância com a inserção social e técnica das camadas subalternas.

Com esta pesquisa, a pesquisadora da FGV se assemelha ao anedótico pesquisador da aranha, celebrizado por chegar a conclusões absurdas nos seus experimentos. Vale lembrar a clássica constatação dele de que “aranhas sem patas são surdas”. O pesquisador chegou à estapafúrdia conclusão ao constatar que após extrair as seis patas de aranhas, elas ficavam imóveis ao seu comando em voz alta de “anda, aranha!, anda, aranha!”!

Um comentário:

Unknown disse...

Cmda Jeferson

Aranhas tem oito patas!
Tirando isto o blog tem sido muito bom!

Dary